O chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, lembrou que "isto não significa o fim da luta contra o terrorismo no Norte de Moçambique". Exemplo disso é o ataque que aconteceu na passada sexta-feira (22.07), na aldeia de Mitope.
Em entrevista à DW África, João Feijó, investigador no Observatório do Meio Rural, diz que "a destruição da base [Catupa] pode levar os guerrilheiros a atacar zonas mais dispersas".
Feijó acrescenta que "zonas repletas de florestas, como Macomia, constituem alvos fáceis" e que "aparentemente, estamos a voltar a uma situação próxima daquela que vivíamos em 2018 e 2019, em que as populações são atacadas nas aldeias dispersas e depois começam a refugiar-se nas vilas sedes distritais".
DW África: Quando é que os deslocados vão poder regressar às suas casas em Cabo Delgado?
João Feijó (JF): Existem movimentos de tentativas de regresso da população que se incentivaram no final do primeiro semestre deste ano, na sequência da diminuição da ajuda alimentar por parte do Programa Mundial Alimentar, uma vez que as populações nos centros de deslocados onde residiam não tinham acesso a terrenos agrícolas para poderem produzir, numa situação de grande insegurança alimentar.
Houve uma precipitação de regresso para muitas aldeias e, em alguns casos, foi o próprio Governo que incentivou. Estou, por exemplo, a pensar no Centro de Reassentamento de Ntocota, no distrito de Metuge, em que o Governo mobilizou várias populações para regressar para aldeias do distrito de Quissanga.
DW África: As Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique assaltaram a base de Catupa. O que é que esta base significa para os insurgentes?
JF: Os guerrilheiros não estão fixos há muito tempo numa base. A guerra de guerrilha é uma guerra de movimentos. Portanto, os guerrilheiros estavam espalhados por várias bases, primeiro no distrito de Mocímboa da Praia e depois, com a intervenção das tropas ruandesas, desceram para o distrito de Macomia, onde estiveram em vários sítios. Estavam agora na floresta de Catupa, perto de onde a FRELIMO também tinha as suas bases durante a luta de libertação.
Esta base tinha a característica de ser a base onde estavam os líderes da insurgência e era lá que também tinham muito material bélico e tinham material escondido, e aparentemente também tinham drones, computadores e relatórios onde registavam os ataques. Então, [as FDS] têm a vantagem de ter conquistado a base.
Mas isto vale o que vale numa guerra de guerrilha, porque os guerrilheiros estão sempre em movimento e, às vezes, a destruição de uma base tem as consequências de dispersão dos guerrilheiros pelo mato e de realização de ataques noutras zonas mais dispersas, dificultando [para] as tropas das Forças de Defesa e Segurança.
DW África: O ataque mais recente aconteceu na aldeia de Mitope, portanto os insurgentes voltaram a atacar...
JF: Aparentemente, estamos a voltar a uma situação próxima daquela que vivíamos em 2018 e 2019, em que as populações são atacadas nas aldeias dispersas e depois começam a refugiar-se nas vilas sedes distritais. O regresso das populações às suas aldeias de origem, que estão dispersas numa zona repleta de florestas, torna-as em alvos fáceis.
DW África: Um dos líderes do grupo que aterroriza Cabo Delgado desde 2017 terá sido morto, assim como dezenas de insurgentes. Isso pode acelerar a erradicação da insurgência na província?
JF: Há rumores que circulam, segundo os quais terão matado o líder durante o ataque à base de Catupa. Mas são informações que, até hoje, pelo menos eu ainda não ouvi de confirmação oficial por parte do Governo ou dos militares. Se isto for verdade, o indivíduo será substituído por outro, que poderá ser mais radical ou menos radical. Agora há de haver uma reação por parte do grupo.
Fonte:da Redação e da DW
Reeditado para:Noticias do Stop 2022
Outras fontes • AFP, AP, TASS, EBS
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