Com a indigitação, a 17 de maio, de Carlos Alberto Fonseca para o cargo de embaixador de Angola em Portugal fica para o passado o mal-estar que colocou os dois países de costas voltadas. Em causa estava o processo judicial que pendia sobre o ex-vice-Presidente angolano, Manuel Vicente, acusado de corrupção e branqueamento de capitais, que entretanto já seguiu para Luanda.
Esta quarta-feira (11.07), Carlos Alberto Fonseca entregou as Cartas Credenciais ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. O chefe de Estado português prefere esquecer as mágoas do passado e falar de um futuro promissor com muitas expetativas.
"As perspetivas são, à partida, tão boas em termos económicos e financeiros, sociais e políticos que agora é preciso é que os passos que sejam dados sejam todos seguros porque a expetativa é altíssima. Os empresários, os trabalhadores, os estudantes têm expetativas; as comunidades que estão num país e noutro têm expetativa. Há que, no fundo, trabalhar de forma segura para que essas expetativas sejam realizadas".
A preparação da viagem do primeiro-ministro português, António Costa, a Angola, marcada para 17 e 18 de setembro, está no topo da agenda de Carlos Alberto Fonseca, depois de os chefes da diplomacia dos dois países se terem reunido em Lisboa esta semana. O próprio ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, deu o mote na sequência dos contactos estabelecidos com o seu homólogo angolano, Manuel Domingos Augusto.
"Houve agora este contacto de forma a que ao nível das embaixadas e ao nível dos serviços dos dois ministérios nós possamos concretizar esse objetivo que é agora um objetivo totalmente prioritário: o primeiro-ministro português deslocar-se a Angola, retomarmos a revisão do programa executivo de cooperação entre os dois países e tratarmos de uma agenda que, no que diz respeito às relações económicas, às relações político-diplomáticas e às relações de cooperação, é uma agenda muito rica".
Em Portugal, a agenda do novo embaixador impõe desafios considerados importantes tanto para Angola como para a sua diáspora. É o que pensa a jornalista e socióloga angolana Luzia Moniz, para quem esta nova era deve ser caraterizada pela normalização efetiva das relações entre os dois países.
"Por outro lado, o que eu também espero do novo embaixador é que consiga estabelecer um diálogo franco e aberto com a diáspora. A diáspora angolana em Portugal tem peso e é preciso que os poderes políticos e nesse caso o embaixador atribua esse peso dialogando permanentemente e não de costas viradas como assistimos até bem pouco tempo. E ainda fazer diplomacia. É para isso que os embaixadores são nomeados mas muitas vezes essa vertente é descurada a favor de alguns interesses não muito claros".
Para o analista português José Pacheco Pereira, as relações luso-angolanas nunca foram sadias e estáveis, mas admite mudanças com o esforço do Presidente João Lourenço, também empenhado no combate contra a corrupção.
"Não depende de Portugal, tudo depende de Angola. Se em Angola as pessoas começarem a dar credibilidade ao sistema judicial, se começarem a perceber que ninguém fica rico do nada ou porque é familiar do Presidente. Se começarem a perceber essas coisas naturalmente as relações estabilizam-se, porque não penso que haja nenhuma hostilidade particular com Angola".
Para Pacheco Pereira o que há é "uma ambiguidade" porque "há muita gente que ganha dinheiro com Angola cá. Há muitos negócios que não são claros. Há compadrios de negócios. E se se estabilizar uma política anti-corrupção em Angola, que atinge evidentemente os angolanos que puseram cá o dinheiro - alguns deles são grandes empresários em Portugal, têm grandes participações em empresas portuguesas e nunca se lhes conheceu alguma atividade económica que justificasse os milhões que têm. Eu acho que o fator fundamental é a estabilização da democracia angolana e o Estado de Direito".
Fonte:da Redação e Por angonoticias
Reditado para:Noticias do Stop 2018
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