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Quinta, nov.
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Eleição de Macron poderá reforçar interesse em Cabo Delgado

Cabo Delgado
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Em entrevista à DW, o investigador do Observatório do Meio Rural (OMR) lembra que há empresas francesas de grande projeção nas áreas do petróleo e do gás, como a Total.

Quanto a um regresso a Cabo Delgado da multinacional – que suspendeu em março de 2021 o projeto de produção de gás natural em Palma depois de um ataque terrorista – o professor catedrático diz que as condições políticas até podem melhorar muito, mas é preciso ter em conta a situação militar na província e as crescentes ameaças terroristas contra ilhas do Índico.

João MoscaJoão Mosca
Investigador do Observatório do Meio Rural, João MoscaFoto: DW/J. Beck
DW África: Com a saída do Mali dos militares da França, e por ser um dos países que mais participa na luta contra o extremismo, acha que o próximo mandato de Emmanuel Macron pode significar um interesse numa parceria ainda maior em Cabo Delgado?

João Mosca (JM): Sim, porque a França tem possíveis grandes interesses em África, não só em Moçambique. Um embaixador francês em Maputo dizia, numa determinada receção, que a França é o país que tem as fronteiras mais próximas com estes países, inclusivamente com Moçambique. A França tem protetorados e, inclusivamente, pode acontecer a existência de uma interseção de águas territoriais entre França, Moçambique e Tanzânia, relativamente à bacia do Rovuma, onde existe exploração de gás - não estão ainda claramente definidas as áreas do gás porque há filões que, pelo menos oficialmente e publicamente, não são conhecidos. Por essa razão, e também pelas ilhas que possui no Oceano Índico e ex-colónias francesas no Índico, naturalmente que a França possui esse interesse. E o país possui também empresas nacionais de grande projeção na área do petróleo e do gás.

DW África: Acha que poderá haver uma maior abertura para um eventual regresso da multinacional francesa Total a Moçambique, agora com a vitória de Macron?

JM: As condições políticas podem melhorar muito. Inclusivamente, há um ponto que eu gostaria de frisar com relação a Moçambique, Ruanda e França. Há aqui uma triangulação clara, embora oficialmente se diga que não, de apoios pelo Ruanda, mas com fundos, recursos e interesses franceses no assunto. Tanto mais que já houve reuniões não tripartidas, mas entre o [Presidente moçambicano Filipe] Nyusi, com Macron e com o [chefe de Estado ruandês, Paul] Kagame.

Penso que a Total é a empresa que mais está posicionada para iniciar os trabalhos. Mas o seu início depende muito da situação militar em Cabo Delgado. E também, cada vez mais, podem existir ameaças terroristas em ilhas do Índico.


JM: Não, penso que é um pouco difícil. Os EUA reivindicam praticamente o total monopólio sobre a fiscalização desta zona. Tanto mais que os EUA, e penso que também outras potências ocidentais, têm todo o empenho em dificultar ou mesmo impedir a entrada chinesa nesta área índica. Isso é algo que os americanos querem evitar, considerando as fortes riquezas não só em termos de petróleo, como ainda em termos de outro tipo de recursos e da própria segurança geoestratégica do Oceano Índico. Portanto, há cada vez mais aqui uma clarificação da geoestratégia global.

Penso que sim, que Macron está a tentar alinhar-se com os EUA, mas esta é mais uma aliança de exploração e divisão do gás que existe nesta zona, que penso que não existirá só na bacia do Rovuma. Inclusivamente, a Total está cada vez mais a comprar estações de gasolina em todo o país. Mas é, talvez, somente um sinal da Total para demonstrar o seu interesse em Moçambique.

DW África: Há dois meses, o Presidente francês também defendeu que são necessárias mais operações como a do Ruanda, que tem estado a prestar apoio a Moçambique no combate aos insurgentes em Cabo Delgado. Acha que é um possível sinal de uma cooperação mais estreita com Moçambique nesta área por parte de Paris?

JM: Não há força militar regular - de exércitos, na sua conceção clássica - que consiga eliminar uma guerrilha. Isso está mais do que comprovado em várias partes do mundo, durante várias décadas, em sítios diferentes. De modo que a solução aqui não está na parte militar. Então, é preciso encontrar outro cenário além da proteção militar, que também é importante (não estou a dizer para que não haja forças militares, sobretudo em defesa de determinadas cidades e zonas estratégicas).

Penso que há também países árabes que estarão interessados nesta guerra, não só a curto prazo, por causa do preço ou das relações na OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), por um conjunto de fatores.

 

 


Fonte:da Redação e da dw
Reeditado para:Noticias do Stop 2022
Outras fontes • AFP, AP, TASS, EBS
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