O funeral do primeiro e único presidente do Uzbequistão desde sua independência, elogiado por seus partidários por ter mantido a estabilidade do país, mas acusado por seus opositores de violar os direitos humanos, é realizado em sua cidade natal, Samarcanda, joia histórica da chamada "rota da seda".
As autoridades deste Estado muçulmano, vizinho do Afeganistão e ex-república Soviética, decretaram três dias de luto nacional a partir deste sábado.
A televisão nacional mostrou na manhã deste sábado a multidão que lotava as principais avenidas da capital, Taskent, por onde passou o cortejo fúnebre que transportava o corpo do presidente. Um grupo de militares levou o caixão até o avião, rumo a Samarcanda, no sul do país.
Na cidade natal do chefe de Estado, muitos uzbeques acompanhavam a passagem do cortejo, mas poucos deles puderam entrar no local do funeral.
Entre os convidados oficiais figuram o primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev, que chegou às 08h00 GMT (05h00 de Brasília) a Samarcanda, o presidente do Tadjiquistão, Emomali Rajmon, e o primeiro-ministro do Cazaquistão, Karim Maximov.
"Grande perda"
"Se nosso presidente tivesse vivido mais 10 anos, o Uzbequistão estaria irreconhecível, mais forte", afirmou à AFP um homem de 58 anos. "Quando soubemos que havia morrido, toda a família começou a chorar, é uma grande perda para todos os uzbeques. Tornou nosso país mais livre e desenvolvido".
Nascido em 30 de janeiro de 1938, o presidente uzbeque escalou todos os postos da estrutura do Partido Comunista na época da URSS até ficar à frente da república soviética do Uzbequistão.
Após a independência do país, em 1991, conseguiu permanecer no poder e dedicou suas forças a eliminar seus oponentes.
Muitas organizações acusam Karimov, reeleito em 2015, de ter manipulado as eleições em diversas ocasiões, de ter detido centenas de opositores de forma arbitrária e de apoiar o uso da tortura nas prisões.
Foi hospitalizado em 27 de agosto depois de sofrer uma hemorragia e foi colocado imediatamente em reanimação.
Depois de uma semana de rumores sobre sua saúde e de informações oficiais divulgadas a conta-gotas, com os primeiros pêsames dos países estrangeiros a televisão estatal precisou finalmente anunciar a notícia na noite de sexta-feira.
O apresentador anunciou em uzbeque e depois em russo que o coração do presidente parou de bater na sexta-feira às 20h15 (12h15 de Brasília) e que ele foi declarado morto 40 minutos mais tarde.
"Transição complicada"
Em um país desprovido de tradição democrática, a sucessão levanta muitas dúvidas e anuncia um período complicado. Segundo a Constituição, o presidente do Senado, Nigmatilla Iuldachev, assumirá interinamente o cargo.
Mas, segundo os especialistas, ao menos três integrantes do alto escalão do país podem querer assumir o lugar de Karimov.
O primeiro-ministro, Shavkat Mirziyoyev, dirige a comissão que organiza o funeral, o que prova o papel importante que pode ter a partir de agora.
Outros dois homens também estão na mira: o vice-primeiro-ministro Rustam Azimov e o poderoso chefe da segurança, Rustam Inoyatov, considerado um dos responsáveis pela morte de entre 300 e 500 participantes de uma manifestação em Andijan (leste) em 2005, reprimida pelas forças de segurança.
O presidente russo, Vladimir Putin, lamentou uma "grande perda" e lembrou que Karimov "era um homem de Estado de grande autoridade e um verdadeiro líder", em um telegrama de condolências publicado pelo Kremlin.
Fonte:AFP
Reditado para:Noticias Stop 2016
Fotografias:Getty Images / Reuters
Tópicos:Mortes, Ásia