Ao microfone de Victor Mauriat ele reage à atribuição desta importante recompensa.
"Quando me ligaram não acreditei quando me anunciaram o prémio. E quando finalmente percebi houve um sentimento de gratidão. E, ao mesmo tempo, um sentimento de grande responsabilidade !
Que alegria, que felicidade receber este telefonema !
Simplesmente porque quando comecei a fazer arquitectura tentei fazer uma ronda para recolher ideias e informações na era pré industrial na Alemanha e associá-las com o que se faz no Burkina Faso para criar uma corrente moderna.
Sempre tinha utilizado materias locais, disponíveis em abundância, e que não prejudicassem o meio ambiente.
E, por conseguinte, ver este trabalho recompensado por esta fundação com este prémio prestigioso eu digo "Ena !"
Daí eu falar em sentido de responsabilidade para continuar a trabalhar na mesma senda."
A atribuição inédita a um arquitecto africano, Diébédo Francis Kéré, originário do Burkina Faso, mas radicado na Alemanha, do mais prestigioso prémio do sector, a distinção Priztker, é saudada pela arquitecta cabo-verdiana Patti Anahory que sublinha a originalidade do seu trabalho.
"São notícias fantásticas ! Este reconhecimento é muito merecido, pelo trabalho que tem feito ao longo dos anos. Mas, simbolicamente, é muito importante que seja o primeiro africano a receber este prémio desde 1979. A primeira pessoa negra a receber este prémio que é muito importante ! É muito difícil, por vezes, que arquitectos e arquitectas de contextos [que não o do Norte global], dos cânones estabelecidos, nesse espaço estabelecido e no exercício da arquitectura, fazerem parte desse espaço, dessa conversa, desse diálogo e desse reconhecimento de arquitectura."
Interrogada sobre a originalidade da obra de Kéré, Patti Anahori enfatizou que, mais do que pela estética, ele foi original e que é um exemplo "pelos valores no seu exercício profissional, pela abordagem, pelos processos, materiais locais, sustentáveis numa lógica de uma arquitectura bio-climática, adaptada ao contexto, também no diálogo tanto com o local no uso dos materiais, como também da comunidade, de servir a comunidade. Mas também de envolver a comunidade das práticas construtivas, das técnicas construtivas. Acho que isso é muito particular no valor que ele põe nessa abordagem da arquitectura, muito virado para as pessoas, para as comunidades, para o desenvolvimento e empoderamento dessas comunidades, que deverá ser o papel da arquitectura, em geral !"
Patti Anahori, arquitecta cabo-verdiana, 16/3/2022
Diébédo Francis Kéré, prémio Priztker 2022, ele que concebeu, mesmo, uma série de residências, em 2014 na província moçambicana de Tete, no que diz respeito à lusofonia africana.
Trabalhou também, para além do seu país natal, no Benim, Mali, Togo e Quénia.
Escolas, dispensários, espaços públicos, pavilhões em África, mas também na Europa (ele também tem a nacionalidade alemã) e nos Estados Unidos foram da sua autoria. Em 2004 ele já tinha recebido o Prémio Aga Khan de arquitectura.
Constam entre os seus trabalhos o novo parlamento do Burkina Faso, mas também um memorial homenageando Thomas Sankara, revolucionário e antigo estadista, assassinado em 1987.
A Fundação Hyatt que gere o Prémio Pritzker, ao anunciar o galardão, saudou o trabalho do contemplado.
"Graças ao seu compromisso em prol da justiça social e à utilização inteligente de materiais locais para se adaptar e responder ao clima natural, ele trabalha em países marginalizados onde os constrangimentos e as dificuldades são muitas e onde fazem falta a arquitectura e as infra-estruturas".
Fonte:da Redação e da rfi
Reeditado para:Noticias do Stop 2022
Outras fontes • AFP, AP, TASS, EBS
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