De acordo com o analista e responsável político, os agressores disseram que se tratava de um "aviso", Fransual Dias considerando que os seus posicionamentos críticos relativamente ao actual poder, estarão na base do sucedido. O comentador que aponta o dedo directamente ao Presidente da República, diz que não se vai calar e lança um apelo à reflexão sobre a situação política do país.
RFI: O que é aconteceu esta madrugada?
Fransual Dias: Por volta das 2 horas da madrugada, nós ouvimos tiros aqui na minha residência. Ficamos em pranto. O meu sobrinho disse-me que o meu carro estava a arder e eu disse 'como assim?'. Logo me deu a suspeita de que seria um acto perpetrado e isto confirmou-se porque deram tiros na minha residência em direcção ao portão e atingiram a parede da casa. Foram mais de 15 tiros, nós achamos as balas no chão e entregamos à polícia judiciária. Quando saíram para seguir, deixaram a palavra de ordem 'aviso, aviso', duas vezes. Alguém ouviu, um vizinho também.
RFI: Tem noção de quantas pessoas é que eram? Chegou a vê-las?
Fransual Dias: Disseram-me que eram três pessoas que vieram num táxi com luzes semi-acesas, um táxi velho, e pararam paralelos ao carro. Quando pararam, saíram com uma botija de gasolina e despejaram-na em cima do carro. Deram coronhada no vidro e despejaram a gasolina e incendiaram (o veículo). Quando o guarda deu conta, claro que gritou, eles deram tiros para o ar para espantar o guarda. O guarda fugiu. Foi ali que dirigiram tiros para a minha casa e o portão que está perfurado, também a parede, há sinais de balas e algumas foram achadas no chão.
RFI: Eles chegaram a tentar entrar em sua casa?
Fransual Dias: Não tentaram. Acho que sentiram que as pessoas estavam já saindo para a rua porque o guarda também estava a gritar, não tiveram tempo suficiente para tentar entrar. Nem sei se queriam entrar ou não. O que foi é que deixaram aviso
RFI: Chegou a reconhecer alguma das pessoas que vieram até a sua casa?
Fransual Dias: Não. Nem o guarda conseguiu reconhecer, mas o que eu sei é que não passa de pessoas a mando do próprio actual Presidente da República.
RFI: O que é que o leva a achar isso?
Fransual Dias: O que me leva (a achar) é que sou comentador político e sou jurista de profissão. Sou um homem sempre solicitado por diferentes órgãos nacionais e internacionais para esclarecer diferentes situações e o próprio Presidente não tem gostado. Muitas vezes, ele chama-me directamente para me dizer a sua reacção sobre alguma das minhas entrevistas, e outros conselheiros mais próximos também me chamam. Acho que a última entrevista que eu dei à rádio Deutsche Welle foi a gota de água que transbordou, porque alertei para o risco de haver um golpe palaciano inventado pelo Presidente da República para adiar as eleições e as evidências não deixam de mostrar que há esse risco.
RFI: Julga que aquilo que sucedeu esta madrugada tem a ver com estas declarações relativas ao período pré-eleitoral?
Fransual Dias: Exactamente, há uma eventual situação de haver uma orquestração por parte do regime dirigido por Sissoco para adiar as eleições.
RFI: O Presidente da República, ultimamente, tem reiterado pelo menos duas vezes que as eleições vão ser mesmo a 4 de Junho e que não há volta a dar, não vai convocar outra data.
Fransual Dias: Tenho muitas dúvidas nas palavras do Presidente. O Presidente da República fala uma coisa hoje e amanhã faz outra. Já nos deu muitos exemplos de contradição entre as suas declarações e as actuações na prática. No mês de Dezembro, disse que as eleições não iam adiar-se, depois invocou meios financeiros. Novamente, disse que não haveria adiamento das eleições, mas o governo disse que faltava 3,5 milhões de Dólares. Está a envidar esforços junto da comunidade internacional, fizeram um último conselho de ministros em que instruíram os ministros competentes para fazer as diligências necessárias para não haver adiamento das eleições. Tudo isso, penso que não passa de manobras dilatórias para adiar as eleições, porquanto o povo está preparado para dar um cartão vermelho e o regime não está preparado para perder.
RFI: Há outros elementos para além destes?
Fransual Dias: Há outros elementos. Os órgãos responsáveis pelo processo da eleição ainda estão atrás de vários processos judiciais. Estão a apreciar processos nomeadamente o processo da coligação do PAIGC, quando deviam publicar as listas definitivas dos candidatos. Estão a perder tempo a apreciar recursos que não têm sentido nenhum e ainda não se fez sorteio da posição dos partidos políticos e ainda há, associado a este elemento, a falta de dinheiro, que não nos deixa na situação de questionar se há vontade de fazer as eleições.
RFI: Como é que se sente neste contexto em que a sua residência acaba de ser atacada?
Fransual Dias: Não passa de uma situação em que este regime tende a adoptar essa via da violência. Ataca uma vez e pode voltar a atacar. Eu não posso presumir que só vieram fazer uma intimidação. Mas de qualquer das formas, eu enquanto político, enquanto comentador, não posso deixar de fazer o meu trabalho. Aliás, eu sou advogado. Não falo só por falar. Sou solicitado por órgãos de comunicação social. Ainda esta madrugada, tive que cuidar do processo de um cliente cujo prazo ia passar hoje, para não colocar em causa o direito do cliente. Portanto, eu não falo para falar. Se há uma informação de que os órgãos de comunicação social precisam, eu não posso desistir de falar, desistir de chamar o povo que tem cada vez mais sofrido. Eu não tenho outra escolha.
RFI: As autoridades foram informadas desta situação, apresentou queixa, vai ter alguma protecção?
Fransual Dias: Acho que não. O vice Primeiro-ministro só me ligou a dizer 'minha solidariedade', 'este é o país que temos', como se não fosse responsável por garantir a segurança das pessoas. Neste momento, ele acumula a pasta de vice Primeiro-ministro e ministro do Interior. Nesta altura, ele deveria dizer-me 'quanta segurança você precisa?'. Mas nem por isso. Ligou-me só a manifestar solidariedade, numa espécie de fingimento. Portanto, a minha vida só está nas mãos de Deus.
RFI: Relativamente aos seus familiares, há alguma medida específica?
Fransual Dias: Vivo aqui sozinho. Quando se instalou o Presidente da República e que ele começou com essa sua forma de violência, tive que mandar a minha mulher e os meus filhos para Portugal, para viver sozinho. Vivo aqui sozinho em casa. Gostaria de dizer que nós somos filhos do mesmo país, que as pessoas repensem e vejam o que estão a fazer. Por exemplo aqueles que mandaram aqui, eu não tenho nada com eles. Só os mandaram fazer pecado aqui, cometer horror que não devia estar a acontecer. Todo o país está abalado. São estas situações que nós temos que evitar. O meu apelo vai no sentido de as pessoas efectivamente pensarem naquilo que estão a fazer, pelo menos não conduzirem o país ao descalabro. Nós sabemos que a guerra de 7 de Junho (1998) levou um ano e os seus efeitos ainda se fazem sentir até agora. Matar um homem da minha personalidade não será uma coisa fácil. Mesmo que não seja eu, poderá ser outra pessoa, e o país poderá entrar numa situação de descalabro. Neste momento, com a guerra na Ucrânia, golpes de Estado em alguns países de África, falta de alimentação, de combustível, isto vai criar uma situação muito difícil. É nisto tudo que as pessoas têm que pensar ao estar a promover esta situação, porque muitas das vezes, as pessoas sofrem, mas podem chegar a um ponto em que já não vão mais poder sofrer.
Fonte:da Redação e da RFI
Reeditado para:Noticias do Stop 2023
Outras fontes • AFP, AP, TASS, EBS
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