Nos últimos três anos a violência doméstica no nosso país tem registado um crescimento preocupante, ao ponto de mobilizar entidades na criação de políticas que visem combater este fenómeno que tanto preocupa as famílias angolanas. Só para se ter uma noção, durante o ano de 2015 registou- se 25.414 casos de denúncias de violência doméstica, o que, em relação a 2014, representa um acréscimo de 9.177 casos. Nem com a aprovação da Lei que criminaliza a violência doméstica e com a criação da linha do SOS Violência Doméstica, os violadores reduziram a prática dos seus actos.
O referido SOS, que atende pelo número 15020 em todo território nacional, recebeu, do dia 19 de Novembro (data da sua criação) a 31 de Dezembro de 2015, um total de 281.382 chamadas. A linha SOS é uma linha de denúncia do Ministério da Família e Promoção da Mulher (MIN FAMU) que, segundo a directora nacional para os Direitos da Mulher do mesmo ministério, Maria da Dores, veio dar um reforço no atendimento de casos de violência doméstica.
Muitos são os cidadãos que despertaram e perderam o medo de denunciar a agressão, de pedir aconselhamento jurídico-familiar ou em questões relacionadas com HIV-SIDA, uma vez que a linha também foi criada para diminuir a estigmatização que atinge as pessoas com esta doença. “Funcionamos com todos os números dos comandos da Polícia, hospitais e centros de aconselhamento familiar, de modo a que seja dado, em cada situação, o devido encaminhamento.
O ministro do Interior reconheceu que o MINFAMU está a dar mais trabalho à Polícia porque desde que foi aberta a linha há muitos casos em que a Polícia é chamada a intervir”, sublinhou. A mesma afluência é registada nos centros de aconselhamento do MINFAMU, onde diariamente recebem, em média, de 10 a 12 casos que são encaminhados através da SOS Violência Doméstica, principalmente de Segunda a Quarta-feira.
A procura é tanta…
Apesar de existir ainda muita gente com o hábito de esconder casos de violência, ou de procurarem tratar no seio da família, sobretudo os casos de violação sexual, quando a linha SOS recebe denúncia de situações do género o caso é encaminhado para os hospitais, depois de serem dados alguns conselhos de forma a que não se destruam as provas ou que se evite algum tipo de contaminação, por exemplo. “Neste momento estamos a sentir que há a necessidade de aumentar o número de profissionais que atendem a linha.
Ela dá resposta a todo o país, apesar de as questões de violência serem tratadas multisectorialmente, por isso pensamos que, de facto, há um grande número de procura”, reconheceu Maria das Dores. Têm recebido também ligações de pessoas que estão infectadas com o VIH que vão à linha pedir esclarecimentos. “Temos o atendimento psicológico”, assegurou a interlocutora, e a estes doentes é dado todo o apoio moral, que muitas vezes ajuda a elevar a sua auto-estima e a dar mais importância ao seguimento da medicação.
Os horários compreendidos entre as 10 e as 11 horas e entre as 18 e as 20 horas são os com maior registo de chamadas, enquanto a taxa média de atendimento é de 1,44 minuto e a taxa média de espera de 1,40 minuto. Luanda tem no MINFAMU 4 salas de aconselhamento, para além das que se encontram nas direcções municipais e nas delegações da Organização da Mulher Angolana.
Luanda lidera lista de pedidos de socorro
Mais de 300 chamadas por dia é a média que Salete Lino regista quando trabalha, no seu período (tarde), no centro da UCALL, que recebe as chamadas do SOS Violência Doméstica. A cidade capital é a que mais registos de ligações tem na linha. Salete explica que muitas vezes têm recebido resposta positiva das vítimas, que voltam a contactar, após o encaminhamento do problema junto das instituições competentes. “As empregadas de limpeza às vezes ligam para denunciar uma agressão ou assédio de que está a ser vítima ou que a vítima é alguém próxima. Recebemos muitas chamadas de pessoas a chorar, ou porque acabaram de ser abusadas ou porque não acreditam que sofreram tal abuso.
Nestes casos, pedimos para se acalmar e explicar a situação”, acrescentou. É preocupante o número de chamadas sem acção (17.538), relacionadas com chamadas sem respostas, quedas, brincadeiras, chamada muda, engano e teste. A nossa interlocutora reconheceu a necessidade de as pessoas respeitarem a linha e também estarem informadas sobre o objectivo da sua criação, para que não dificultem a ligação de quem realmente precisa de ajuda.
O pouco tempo que fizemos no centro de chamadas deu para constatar a quantidade de trabalho que têm os “socorristas”. Das denúncias de violência recebidas na linha lidera a lista a violência física, a seguir a económica, psicológica, sexual e laboral. Entretanto, o resultado global de violência doméstica (25.414) é o somatório de casos registados e confirmados pelo MINFAMU, Linha SOS VD, Ministério do Interior, OMA e INAC.
Fonte:Angonoticias
Reditado para:Noticias Stop 2016