Em Angola, o aumento do preço dos combustíveis veio intensificar ainda mais a crise social e económica que se vive no país. A decisão de aumentar o preço da gasolina dos 160 para os 300 kwanzas foi anunciada pelo executivo no início do mês de Junho e, desde então, as reacções sobre este tema têm sido constantes.
Gilberto dos Santos, coordenador executivo da Associação de Defesa do Consumidor de Angola, disse, em entrevista à RFI, que o descontentamento e a revolta se fazem sentir no país.
"Há sim uma revolta em todo o país, sobretudo, na questão dos consumidores, que se sentem afectados com esta subida, tendo em conta a situação económica e financeira que as famílias angolanas enfrentam. Quanto à questão das pressões que estão a ser feitas ao nível do país, há um certo descontentamento e certas manifestações, sobretudo, em algumas regiões do país e essas manifestações têm levado as autoridades policiais à sua acção de fazer a manutenção da ordem pública, que tem coincidido com a apreensão de alguns manifestantes", defendeu, em entrevista à RFI.
Ouça aqui parte do comentário:
Combustíveis, comentário Gilberto dos Santos, 14-06-2023 1
Gilberto dos Santos defendeu também que esta alteração do preço não obedeceu a determinados princípios importantes, como é o caso da audição dos parceiros sociais.
"Essa alteração não obedeceu aqui a alguns princípios que nós achamos importantes, enquanto associação do consumidor. Não foram ouvidos os parceiros sociais. Nós, enquanto associação dos consumidores, não fomos convidados, não fomos consultados a dar nenhum parecer, mediante esta proposta do executivo, portanto, nós ficámos surpreendidos. A notícia chegou numa hora nocturna, em que estaria em vigor já no dia a seguir. Os consumidores não tiveram o máximo de 24 horas de aviso prévio", salientou.
O nosso entrevistado considera também que esta é uma medida desajustada devido aos problemas que as famílias angolanas já enfrentam no dia-a-dia.
"Temos o nosso descontentamento porque hoje as famílias angolanas têm sérios problemas, problemas esses que levam ao empobrecimento das famílias. A questão do não alcance, sobretudo, da cesta básica , a falta do poder de compra das famílias. Hoje, as famílias gastam a sua maior renda com medicamentos, gastam dinheiro na educação, na energia, na água e agora com o aumento dos combustíveis que também aqui influenciou", acrescentou Gilberto dos Santos.
Ouça aqui a restante entrevista:
Combustíveis, Gilberto dos Santos, 14-06-2023 2
Nova manifestação marcada para 17 de Junho
Os cidadãos angolanos já se mostraram, por várias vezes, descontentes com este primeiro ajuste no preço dos combustíveis e têm saído às ruas para se manifestar. No início do mês, pelo menos cinco pessoas perderam a vida em confrontos durante uma manifestação de taxistas e mototaxistas, na província do Huambo.
Para o próximo dia 17 de Junho está já convocada uma nova manifestação a nível nacional. Gilberto dos Santos apela às autoridades judiciais para que colaborem neste protesto, para que os cidadãos possam exercer o seu direito de manifestação, consagrado na Constituição.
"Nós, enquanto associação dos consumidores, apoiamos todas as manifestações de interesse público, que visa persuadir o poder executivo, a mudança de comportamentos para a melhoria de todos e nós continuamos a apelar às autoridades judiciais que colaborem nessa manifestação pacífica para que tudo corra bem, para que os cidadãos possam exercer este direito de manifestação", disse ainda.
Ouça aqui a parte final da entrevista:
Manifestação, Angola, 14-06-2023 3
De salientar que a Nigéria vive, por estes dias, uma situação semelhante a Angola, com o aumento do preço dos combustíveis a ter um impacto directo na vida dos cidadãos.
Fonte:da Redação e da RFI
Reeditado para:Noticias do Stop 2023
Outras fontes • AFP, AP, TASS, EBS
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