
Samora Machel morreu a 19 de Outubro de 1986, faz hoje 30 anos, em Mbuzine, território sul-africano, na sequência da queda da aeronave que o transportava, juntamente com outros membros da sua comitiva. Regressava da Zâmbia onde se deslocara em missão de paz para a região.
A dificuldade no esclarecimento do 'caso Machel' reside, segundo Chissano, no facto de os actores principais estarem mortos.
“O apartheid acabou e também os actores, muito deles, morreram. Estou a falar de Peter Bota (Primeiro-Ministro), de (Magnus) Malan, e de outros generais que podiam nos esclarecer sobre este segredo que foi revelado pela caixa negra do avião. E foi revelado este segredo lá (na África do Sul) durante as investigações”, disse.
Chissano, que sucedeu a Samora Machel na chefia do Estado, falava esta quarta-feira à margem das cerimónias centrais alusivas ao 30° aniversário da morte de Machel, havidas em Maputo, a capital do país, dirigidas pelo Presidente da República, Filipe Nyusi.
Segundo Chissano, o navegador do avião dava as direcções para o esclarecimento do caso, considerando os dados da Frequência Muito Alta (VHF, sigla em inglês) do Sistema de Navegação de Alcance Omnidireccional (VOR).
“Este assunto não foi cavado e é difícil cavar agora, porque queríamos saber se havia lá um VOR, onde estava o VOR, quem colocou o VOR, houve ou não esses exercícios militares naquele lugar. Portanto, é ali onde o inquérito foi inconclusivo, porque aqueles que deviam responder a estas perguntas recusaram-se a responder e recusaram-se a continuar a investigar até que morreram”, explicou o antigo estadista.
Chissano disse que estava criada uma Comissão da Verdade na África do Sul, ao qual os actores principais recusaram-se a participar.
“Não sei se lá na Comissão da Verdade teriam interrogado sobre este aspecto. Mas eu creio que o Presidente [Nelson] Mandela estava com vontade de aproveitar a Comissão da Verdade para fazer falar o Malan, para fazer falar o Peter Bota. Mas nem Peter Bota, nem Malan estão cá. E sabemos que naquele exército sul-africano havia muitos segredos. Sabíamos até que havia um exército secreto dentro do exército, que fazia o que entendia, que matava em toda a região, desde Angola até Dar-es-Salam (Tanzânia) ”, afirmou.
Para Chissano, há muitas perguntas que se podem fazer a respeito deste assunto, mas, para ele, o segredo está no VOR.
“É uma missão difícil. Considero difícil, porque se fosse eu a ser incumbido não saberia como andar. Talvez tínhamos que nos reunir de novo com os nossos camaradas da África do Sul. Sabemos que eles não herdaram o apartheid. Nós todos estávamos a lutar contra o apartheid. Não podemos pegar os crimes do apartheid e pôr em cima dos nossos camaradas”, sublinhou.
Contudo, Joaquim Chissano, que dirigiu o pais até 2004, afirma ter esperança de que a justiça seja feita e, um dia, que a “luz venha ao de cima”.
Fonte:RM
Reditado para:Noticias Stop 2016
