António Guterres veio primeiro a Moscovo, depois a Kiev para ajudar a resolver o que puder em nome da paz. “O meu contributo é assumido com um objectivo fundamental : ser um mensageiro de paz e tentar ajudar a resolver alguns dos mais difíceis problemas”, declarou o dirigente da ONU.
Em português, o Secretário-geral das Nações Unidas disse ter chegado o momento de vir ao terreno falar com ambas as partes. Dois meses depois do início da guerra, sem sinais de tréguas e com situações humanitárias muito delicadas no Leste da Ucrânia, António Guterres diz que a sua presença serve para tentar organizar um corredor humanitário para Mariupol já nesta sexta-feira.
“Entendi que este era o momento em que na minha apreciação das dificuldades que se estão a atravessar com uma batalha tremenda no leste da Ucrânia, falhado o apelo para um cessar-fogo pela Páscoa, entendi que este era o momento de fazer um esforço ainda mais visível e, por isso, escrevi aos Presidentes da Ucrânia e da Rússia. (…) O nosso princípio é o princípio de que a integridade territorial da Ucrânia deve ser preservada”, declarou o responsável.
Nesta conversa em Kiev, António Guterres disse que as negociações políticas para encontrar a paz estão a avançar de forma muito lenta e nas mãos da mediação da Turquia. As Nações Unidas nunca foram aceites como mediadoras, diz o Secretário-geral da ONU.
“A mediação política do conflito é uma mediação na qual as Nações Unidas não estão integradas. Desde o princípio não houve aceitação da utilização das Nações Unidas nessa mediação política. E é uma posição clara que vem os Acordos de Minsk, que vem do formato Normandia, em que as Nações Unidas nunca foram convidadas a participar. Mas não é uma questão que nos preocupa excessivamente. Nós temos acompanhado essas negociações”, referiu António Guterres.
“Eu estive, como repararam, antes de ir a Moscovo, com o presidente Erdogan. A Turquia tem sido um país que mais apoio directo deu a essas negociações. Tenho acompanhado todos os passos das negociações. Infelizmente, neste momento a situação não é a melhor. As negociações têm estado muito lentas e muito complexas, mas espero que um dia a paz regresse a estas terras que bem necessitam dela”, acrescentou ainda o Secretário-geral da ONU.
“As senhoras e os senhores que estão aqui têm com certeza uma imagem mais clara que eu próprio do que é o sofrimento das populações, do que é o número de mortos especialmente os civis. A destruição é uma coisa que tem que acabar. Isso é uma coisa que não é aceitável nos nossos dias”, disse ainda Guterres aos jornalistas.
Nos arredores de Kiev, ao longo do dia de hoje, Guterres já teve oportunidade de observar os estragos causados pelos bombardeamentos russos em Borodyanka, a vala comum onde foram depositadas centenas de corpos em Bucha e os prédios de habitação calcinados na ofensiva terrestre em Irpin, tudo num raio de 50 quilómetros em redor da capital ucraniana.
Guterres insiste que a Rússia invadiu o país, colocando em causa a integridade territorial da Ucrânia.“Desde o princípio que nós dizemos e eu disse-o em Moscovo ao lado do Ministro dos Negócios Estrangeiros Lavrov, e disse-o em Moscovo ao Presidente Putin coma televisão russa a filmar que, para nós, esta era uma invasão da Ucrânia pela Federação Russa, que esta invasão era contrária à Carta das Nações Unidas, que violava a integridade territorial da Ucrânia e que a guerra deveria acabar o mais cedo possível. Ao mesmo tempo, é verdade que nós e outras entidades, o Santo Padre, diversas outras entidades no mundo, tem pedido um cessar-fogo completo nessa região e que as negociações políticas possam ocorrer com esse cessar-fogo. Até agora, não houve condições para o fazer. Eu mantive essa posição e voltei a reafirmá-la em Moscovo, mas ao mesmo tempo dado que a questão de Mariupol estava completamente paralisada foi muito importante ter com o presidente Putin uma conversa séria sobre a necessidade da operação. Esperamos, obtido o acordo de princípio que seja possível encontrar as modalidades práticas e simultaneamente que satisfaçam as autoridades russas e ucranianas e os nossos princípios”, disse.
O Secretário-Geral procura obter em Kiev garantias do lado ucraniano para que já amanhã seja tentada a criação de um corredor humanitário entre Mariupol e a cidade de Zaporijjia, no leste da Ucrânia. O foco é a retirada de civis que estão nas instalações da metalúrgica Azovstal em Mariupol onde estão também barricados milhares de combatentes paramilitares ucranianos.
“Esta operação é em relação à Azovstal e nós esperamos que se encontre uma solução de acordo entre todos para que se possa realizar uma acção humanitária que tenha um valor extraordinário. Porque, imaginem que é um conjunto de mulheres e crianças num bunker, no escuro, desprovidas de tudo e no meio de uma guerra. Portanto, era a prioridade das prioridades. Era assim entendido pelo governo ucraniano e é assim também entendido por nós, espero que os contactos que estão a decorrer para afinar uma operação muito complexa, com o acordo de todos, tenham êxito”, declarou Guterres ao considerar que “esta operação é particularmente delicada porque não se trata de pessoas, digamos, nas suas casas, em sítios públicos, de cidades para serem evacuadas, trata de pessoas que estão dentro de uma fortaleza subterrânea em condições verdadeiramente dramáticas. Há aqui um problema de confiança. Confiança das pessoas que podem sair e também que isso não é utilizado indevidamente por outros actores. Nós estamos a tratar das condições que são exactamente necessárias para que isto se possa processar em toda a segurança e com toda a confiança. É isso que estados a tratar neste momento”, insistiu o Secretário-geral da ONU.
Ao final do dia, António Guterres e Volodymyr Zelensky poderão falar aos jornalistas para detalhar pormenores deste acordo para tentar, mais uma vez, o que tem falhado até aqui, ou seja um corredor humanitário com segurança de e para Mariupol.
Fonte:da Redação e da rfi
Reeditado para:Noticias do Stop 2022
Outras fontes • AFP, AP, TASS, EBS
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