O bebé António, que tem hoje um ano, é filho de um casal de lésbicas, Valéria e Susana, e de um homem, Hérnan, que participou na fertilização assistida de uma delas. Os apelidos dos quatro foram mantidos em segredo, mas a família aceitou tirar uma fotografia com o chefe de Gabinete da Província de Buenos Aires, Alberto Perez, que lhes deu a nova certidão de nascimento.
Valéria e Susana, casadas em Mar del Plata, um popular destino turístico no litoral da Argentina, decidiram há dois anos terem um filho e conseguiram que Hérnan, cujos laços com elas se desconhecem, doasse o seu sémen. No ano passado, o bebé António nasceu e foi registado com o nome das duas mães. Todavia, Hérnan nunca aceitou abdicar da paternidade, tendo sido sempre presente na vida do filho. Pouco tempo depois, Susana, Valéria e Hérnan decidiram iniciar um processo administrativo para registar este último como o pai legal.
Para esta família era importante que António tivesse direito à sua identidade integral e que fosse legalmente reconhecido como sendo filho de duas mulheres e de um homem, até "para que todos possam saber e usufruir dos seus direitos e obrigações", argumentaram os três.
"Nós sabemos que é um acontecimento completamente novo, pois é a primeira vez que ocorre na Argentina e na América Latina, e muitos podem até ter algum ressentimento, mas a decisão que tomamos, além de legal e administrativa, prende-se com uma perspetiva humanista", afirmou Alberto Perez, do Gabinete da Província de Buenos Aires.
Por sua vez, o presidente da Federação Argentina de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais, Esteban Paulon, disse que seu país "vive neste momento um tempo maravilhoso de expansão de direitos." "Hoje, com o reconhecimento dessa filiação, pioneira na América Latina, damos um passo para a consolidação de uma sociedade que reconhece e protege todas as formas de família. Estamos a abrir a porta para um país melhor, que garante o direito a todos de criar uma família e viver em liberdade ", declarou.