Gungunhana é o título da mais recente obra literária do escritor moçambicano, Ungulani Ba Ka Khosa, a ser lançada na próxima quinta-feira, dia 15 de Fevereiro, na Livraria Minerva Central, em Maputo, cuja apresentação será feita pelo escritor Marcelo
Panguana.
A sai sob a chancela da Porto Editora, Gungunhana é o seu segundo livro dedicado ao reinado de Ngungunhane, imperador do Reino de Gaza ao longo da segunda metade do século XIX, sendo esse o último império a resistir às acções colonizadoras de Portugal no período.
Gungunhana reúne dois livros deste renomado escritor moçambicano, o emblemático Ualalapi, um dos cem melhores livros africanos do século XX e o novíssimo romance As Mulheres de Ngungunhane.
Neste romance, procura-se recuperar uma parcela da história de Moçambique: o reinado de Ngungunhane e concretamente o declínio e queda do Império de Gaza, materializado na captura e partida do imperador para Portugal, cenas com as quais encerra a narrativa.
A valorização da tradição e a fundamentação do tratamento historiográfico da figura de Ngungunhane, a partir dos dados da oralidade, interliga-se estruturalmente com a presença, explícita nuns casos e implícita noutros, de modelos literários ocidentais.
Fátima Mendonça, lembra que, os numerosos estudos dedicados a esta obra têm destacado o seu carácter anti-épico e questionador da História.
Ana Mafalda Leite formula esta questão argumentando tratar-se da desmitificação da história de Ngungunhane, fornecida quer pela corrente colonial, quer pela revolucionária pós- independência, o que ´´convida a reflectir pela validade de uma e outra, das fontes escritas e orais, e daquelas que o narrador convoca no seu próprio discurso.´´(Leite, 1998:87-88).
Outro aspecto que os estudos sobre Ualalapi destacam é a sua relação com o modelo da narrativa fantástica latino-americana. Gilberto Matusse (Afolaby, 2010: 99-103) debruça-se sobre esta questão defendendo que essa aproximação pode ser interpretada como uma ruptura relativamente a um cânone europeu já que essa é a característica universalmente aceite das literaturas latino-americanas.
Assim sendo, haveria em Ualalapi a busca de um modelo capaz de reflectir uma identidade moçambicana diferente da europeia, diferente da portuguesa. Matusse também sugere que a adopção do modelo latino-americano (já consagrado) legitima a utilização da técnica literária de incorporação da imaginação mitológica e simbólica das sociedades africanas tradicionais.
Outra leitura possível, que constitui ainda hoje matéria de sedução, é a possibilidade que a carga disfórica do final do texto consente, através da profecia de Ngungunhane, de revisitar a história de Moçambique até 1986, regresso dos restos mortais de Ngungunhane como herói a Moçambique e morte de Samora Machel, com todos os paralelismos possíveis deixados em aberto.
O historiador Aurélio Rocha considera que o trabalho de Ungulani Ba Ka Khosa, pseudónimo de Francisco Esaú Cossa, “faz dele um dos mais interventores e comprometidos escritores moçambicanos. Os seus livros, os seus pronunciamentos quer em palestras, quer em entrevistas e escritos nos jornais […] fizeram e fazem dele um mestre na arte do romance e da narrativa histórica ficcionada”.
Ungulani Ba Ka Khosa é Secretário-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos, AEMO.
Escreveu muitos livros, vários deles premiados. Autor dos livros: Ualalapi, Orgia dos loucos, O Choriro, Entre as Memorias Silenciadas, Os Sobreviventes da Noite, entre outros.
Fonte:da Redação e Por RM
Reditado para:Noticias do Stop 2018