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Moçambique: "Terroristas usam violação como arma de guerra"

Africa
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Desde outubro de 2017, a sua terra natal está a ser devastada por uma guerra intensa entre um grupo terrorista associado ao Estado Islâmico e as forças de segurança moçambicanas e aliadas. Telma afirma: "Na nossa vizinhança mora uma menina que conseguiu escapar aos terroristas após três anos de cativeiro e voltar para a sua família. Mas a maioria nunca regressa." "Os jihadistas raptam também meninas muito jovens,que crescem com os terroristas até atingirem a puberdade. Depois, são forçadas a ter relações sexuais e a ter filhos."

O testemunho de Telma é uma das centenas de depoimentos recolhidos por funcionários de várias organizações de ajuda no norte de Moçambique. O resultado do trabalho de campo foi resumido num relatório recente sobre "casamentos forçados de crianças em Cabo Delgado", publicado pela organização não-governamental "Save the Children Moçambique".

"O problema dos casamentos forçados de meninas menores já existia antes da guerra, mas foi durante muito tempo um tabu. As causas são de natureza cultural e social", diz Paula Sengo Timane, uma das autoras do relatório, em entrevista à DW. "Desde o início do terror, o problema agravou-se dramaticamente. Precisamos de fazer algo contra isso."

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01:59
Mais casamentos infantis
De acordo com as ONG envolvidas no estudo, a escalada do conflito em Cabo Delgado, em 2023, levou a um aumento de 10% nos casamentos infantis. Paula Sengo Timane teme que esse número possa continuar a aumentar. A guerra, que assola grande parte da província de Cabo Delgado, impede que as crianças nas áreas mais afetadas recebam a proteção e o apoio necessários.

Timane apela a uma resolução rápida do conflito em Cabo Delgado e pede fundos adicionais para fornecer cuidados e apoio às crianças.

Questionada sobre se será possível a organizações como a "Save the Children" continuar a prestar ajuda nas áreas afetadas pelo terrorismo, como os distritos de Macomia, Palma ou Mocímboa da Praia, Timane diz que "não é impossível, mas é muito difícil e desafiador".

Enquanto o clima de insegurança persiste, as organizações de ajuda só dificilmente têm acesso a zonas de conflito e, portanto, a crianças em risco. É praticamente impossível viajar para as áreas afetadas e trabalhar nesses locais.


"Raptos e violações são sistemáticos"
"Durante o nosso trabalho de campo, constatámos que os jihadistas utilizam raptos, violações e casamentos forçados sistematicamente como arma de guerra", diz Timane. O objetivo dos extremistas é aterrorizar a população: "Eles querem demonstrar o seu poder sobre as famílias e também ganhar terreno psicologicamente. Esta é uma componente importante da guerra de tais grupos, também em outras partes do mundo."

O problema tem ainda uma raiz social e sociocultural devido à situação atual na zona: "A situação económica e social é catastrófica. Neste contexto, documentámos alguns casos de pais que decidiram, por conta própria, casar as filhas menores com membros dos terroristas", diz a autora do estudo.

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"Fomos informados por pais que, por iniciativa própria, ofereceram as suas filhas aos terroristas. Esses pais geralmente procuravam o dinheiro do casamento, de que precisavam desesperadamente para alimentar o resto da família, especialmente porque a guerra, nos últimos anos, reduziu radicalmente a maioria das fontes de rendimento na zona", explica Paula Sengo Timane, citando depoimentos locais.

Em alguns casos, para os pais afetados, o aspeto da segurança também foi relevante: "Alguns pais queriam entregar as suas filhas a um homem que poderia protegê-las de violações e raptos por outros terroristas."

Impactos devastadores da guerra
A onda de ataques em Cabo Delgado desde janeiro deste ano levou ao encerramento de quase todas as escolas nas áreas de conflito, impossibilitando que mais de 22.700 crianças frequentassem a escola. Paula Sengo Timane salienta que as meninas jovens casadas têm muito menos hipóteses de terminar a escolaridade. Além disso, estão em maior risco de violência física e sexual, bem como de complicações durante a gravidez e o parto.

No estudo publicado pela "Save the Children" sobre casamentos forçados de crianças em Cabo Delgado, cada vez mais menores na região expressam preocupação de que possam ser vítimas desse tipo de violência. "Documentámos que algumas crianças, especialmente as meninas nas áreas de conflito, estão severamente traumatizadas e necessitam de apoio psicológico", diz a autora Paula Sengo Timane.

A guerra contra o terrorismo jihadista em Cabo Delgado já dura há oito anos e não tem fim à vista. Segundo dados das Nações Unidas de junho, desde o final do ano passado, mais de 189.000 pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas, representando a maior deslocação desde o início do conflito. Desde 2017, mais de 4.000 pessoas foram mortas e mais de 700 mil foram deslocadas, de acordo com as ONG.

 

 


Fonte:da Redação e da dw
Reeditado para:Noticias do Stop 2024
Outras fontes • AFP, AP, TASS, EBS
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