Reagindo a estes acontecimentos sobre os quais poucas informações suplementares conseguiram filtrar até ao momento, a Assembleia Nacional Popular condenou em comunicado a "tentativa de subversão da ordem constitucional" e apelou a população a "aguardar com tranquilidade as conclusões dos inquéritos em curso".
No fórum dos partidos políticos, o PAIGC disse em comunicado ter acompanhado "com surpresa e estupefacção os acontecimentos ocorridos ontem" e expressou "o seu mais veemente repúdio à violência e a toda tentativa de subversão da ordem constitucional". Uma posição reiterada em declarações à RFI pelo líder deste partido, Domingos Simões Pereira, que por outro sublinha a necessidade de se efectuar uma investigação credível sobre o sucedido.
"Todos os golpes devem merecer o mais veemente repúdio e condenação. Agora, em relação ao que ocorreu ontem, isso aconteceu depois de intensos sobressaltos que todos nós vivemos aqui em Bissau e que foram causados por uma grande crise entre os parceiros do presente regime, em que por via de comunicados e cartas que foram difundidas, deram conta de um mal-estar com a remodelação governamental. Também vem a seguir ao assunto do avião mal tratado, do acordo de exploração de petróleo 'que era, mas que afinal não era e que finalmente é' e da apreensão de droga pertencente a grupos que a gente não conhece", começa por recordar o líder do PAIGC.
"É dentro deste enquadramento que, de repente, surge um grupo de homens que conseguem aceder ao Palácio do governo onde estão reunidos o governo e o Presidente da República, conseguem tomá-lo de assalto, há tiroteio -dizem que durante 5 horas- e no final, as vítimas são os inocentes guardas que estavam lá fora. Os que estavam lá dentro e que chegaram a estar reféns, saíram completamente ilesos. Portanto, o que estou a dizer é que eu e o próprio PAIGC, não aceitamos e alertamos a opinião pública nacional e internacional a não aceitar explicações simplistas para assuntos tão graves, até porque parece que houve perda de vidas humanas. Perante isso, nós exigimos que haja um inquérito feito por gente competente e credível e que possa realmente trazer à luz o que aconteceu e responsabilizá-los em consequência" conclui Domingos Simões Pereira.
Do outro lado do espectro político guineense, os partidos que sustentam o governo também têm reagido ao ataque sucedido esta terça-feira. A Assembleia do Povo Unido da Guiné-Bissau (APU-PDGB), partido liderado pelo Primeiro-ministro Nuno Nabiam, apelou para que os responsáveis sejam colocados perante a justiça e punidos por este "acto ignóbil". No mesmo sentido, outra formação que integra o executivo, o Madem-G15, expressou o seu repúdio a "este acto bárbaro e violento que visa somente pôr em causa, mais uma vez, a ordem constitucional e o Estado de Direito democrático na Guiné-Bissau", exigindo que "os actores sejam responsabilizados".
No mesmo sentido, através do seu porta-voz, Vítor Gomes Pereira, outro dos partidos que alicerçam o governo, o Partido de Renovação Social (PRS), também "condena firmemente e veementemente a tentativa de golpe de Estado e, felizmente para o povo guineense, para nossa democracia, os acontecimentos da subversão da ordem constitucional falharam. O PRS está empenhado desde a sua criação na senda da democracia, de construir pontes para que haja estabilidade política e não o contrário. Sejam quais forem os autores morais, materiais deste ignóbil acto, com todas as nossas forças, nós condenamos".
Comentando as dúvidas que têm sido emitidas em torno da natureza do sucedido, o porta-voz do PRS declara que "vivemos numa democracia e os pontos de vista, é salutar que divirjam. Mas agora, nós PRS, essa contestação não vemos que tenha pés para andar, com aquele tiroteio todo e com mortes, duvido que alguém com boa-fé esteja a pôr em causa estes acontecimentos. Mas a nossa posição já foi vivamente clarificada: nós condenamos a tentativa de golpe de Estado numa democracia constitucional participativa. Achamos que a via do diálogo é a única e a mais consentânea com os princípios e inclusivamente com os interesses do nosso povo. A seguir, cabe à justiça fazer o seu papel", remata Vítor Gomes Pereira.
No seio da sociedade civil, também se expressaram reacções de condenação. Esta tarde, a Liga dos Direitos Humanos falou em "actos de violência gratuita" e deu conta do receio de que "em consequência, se instale um clima de insegurança e de incerteza capaz de comprometer os esforços da consolidação de Estado de Direito empreendidos por vários actores nacionais e internacionais". Também receoso quanto ao futuro, o Fórum da Sociedade Civil da CEDEAO considerou que "toda a população guineense neste momento está com sentimento de medo, de terror, sobretudo porque a situação está ainda muito nebulosa", pelo que "é preciso muito rapidamente que as autoridades venham explicar à população o que aconteceu em concreto para aliviar o peso do medo, que neste momento está a reinar".
O assalto ontem contra o Palácio do governo foi condenado igualmente a nível internacional, nomeadamente pelo secretário-geral da ONU, a União Africana, a CEDEAO, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Portugal, França e outros países.
Fonte:da Redação e da RFI
Reeditado para:Noticias do Stop 2022
Outras fontes • AFP, AP, TASS, EBS
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