Kuando-Kubango encontrava-se a mais de mil quilómetros do seu “quartel-general”, em Menongue. Afinal, o interesse deste por Luanda viria a ser confirmado a 11 de Janeiro deste ano, isto é, 28 dias depois de ter estado na apresentação do documento com os princípios orientadores que deverão sustentar um crescimento consolidado para a capital angolana nos próximos anos.
Dois dias depois, o novo homem forte da capital do país tomava posse em cerimónia presidida pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, com quem reuniu momentos depois e definiu a “segurança” e a limpeza como os seus dois principais cavalos de batalha.
Aliás, o lixo foi o principal inimigo dos seus dois últimos antecessores, nomeadamente Bento Bento e Graciano Domingos. Entre as outras prioridades, constam o fornecimento de água e de energia eléctrica, desde o consumo ao desperdício. Mas Higino Carneiro mostrou que tem “necessidade urgente” de implementar o Plano Director Metropolitano de Luanda, elaborado pela consultora Urbinveste, liderada pela empresária Isabel dos Santos. Para os primeiros actos da sua governação, foi um pequeno passo. Mas nada foi feito sem antes deixar claro aos administradores municipais, comunais e luandenses em geral, que o “poder e a autoridade” não podiam estar na rua. E os luandenses sentiram que, ao contrário dos dois anteriores governadores de Luanda, o general tinha autoridade de facto e de jure, quando exonerou das suas funções José Tavares, o então presidente da Comissão Administrativa de Luanda.
E, consequentemente, chamou para si esta responsabilidade, sendo coadjuvado pela jovem Mara Quiosa, antiga administradora do Sambizanga. Tanto Bento Bento como Graciano Domingos, apesar de algumas alterações que terão feito no xadrez luandense, não se atreveram a tanto. Por isso, o primeiro, antes de ser destituído das funções de 1º secretário do MPLA na capital do país, fez questão de lembrar ao actual governador que “em Luanda havia muitos generais que mandavam”.
Até então detentor de um poder quase paralelo ao dos anteriores governadores, o também general José Tavares não foi brindado com os “30 dias de graça” a que tiveram direito alguns administradores antes de serem exonerados. Mas também não foi necessária a rispidez com que foram afastados os administradores conmunais do Ramiros e do Mussulo, respectivamente António Segunda Muquissi e Cirios da Mata, suspeitos de terem vendido terrenos do Estado. Por isso, acabaram despedidos num acto público com os membros da Administração Municipal de Belas, realizado no auditório do Instituto Superior dos Serviços Sociais, no início de Fevereiro deste ano. A exoneração de José Tavares serviu de sobreaviso para quem ainda duvidasse da missão que lhe havia sido confiada e do próprio poder que aufere.
Com ele, segundo analistas ouvidos por este jornal, dificilmente assistir-se-ão episódios como os vividos recentemente em Luanda, quando alguns administradores municipais foram exonerados, porém, as decisões acabaram “congeladas”. Foi assim que no final de Fevereiro, cerca de dois meses depois de ter sido nomeado pelo Presidente da República, Higino Carneiro exonerou os administradores municipais de Viana, Quiçama, Belas e do Distrito Urbano do Sambizanga, nomeadamente Manuel Caterça, Domingos Assis Fortes, Filipe Barros Espanhol e Mara Regina Quiosa. Para Viana foi buscar a Benguela o então primeiro secretário do MPLA e deputado deste partido na Assembleia Nacional, Jeremias Dumbo “Tchilelevika”, cujo nome tinha sido associado à construção de um jardim milionário na cidade das Acácias Rubras.
Depois de um período no Kwanza-Norte, onde dirigiu os municípios de Cambambe e Lucala, Mateus da Costa “Godó” foi o escolhido para dirigir os destinos do município de Belas. Quadro do MPLA, “Godó”, que já passou pelo Cazenga e Sambizanga, era apenas o rosto visível do Departamento de Administração e Finanças do Comité Provincial. O município da Quiçama recebeu como administrador Vicente Francisco Soares, em substituição de Domingos Assis Fortes. Mas a grande surpresa até ao momento foi a indicação da jovem Milca Cuesse Caquesse para o cargo de administradora do distrito do Sambizanga. Mas a saga do general, que já foi ministro sem pasta, ministro da Administração do Território, das Obras Públicas e governador do Kwanza-Sul está longe de terminar.
O próprio deixou claro numa conferência de imprensa que ainda vai exonerar mais administradores, ficando-se por saber se entre os sorteados estarão os administradores do Cazenga, Cacuaco, Icolo e Bengo e dos distritos do Kilamba Kiaxi e da Samba. Estes são alguns dos que não constaram no primeiro “sorteio” feito no Governo Provincial de Luanda. Para algumas das decisões concorreram as informações e constatações a que o novo inquilino do Palácio da Mutamba teve acesso durante as jornadas de campo que tem vindo a realizar desde o dia 21 de Janeiro de 2016. Começou pelo município de Cacuaco, dirigido por Carlos Cavuquila, e posteriormente Cazenga, Belas, Quiçama e nos demais distritos.
O município de Viana, que já radiografou durante os primeiros dias do seu consulado, passou a ser um dos seus locais de eleição, por causa da bacia de retenção do Coelho. Uma das principais causas dos engarrafamentos que se verificam na estrada de Catete, particularmente no KM 9, a referida bacia – hoje apelidada de rio Coelho- transformou-se numa das principais inquietações dos responsáveis do município de Viana e, consequentemente, do Governo Provincial de Luanda. Mas as visitas estenderam-se para as centralidades do Sequele e do Kilamba, ainda em finais de Fevereiro.
Entre outras questões, os habitantes das novas centralidades apelaram à intervenção do governador para a construção de um hospital geral, um salão de velórios e cemitério, um SIAC, uma biblioteca, acessos principais e secundários, transportes públicos e uma estação de tratamento de resíduos. Solicitaram, igualmente, que interceda por uma maior organização e sensibilidade da gestora Imogestin, no sentido de não onerar o bolso dos moradores cobrando duas prestações por mês.
Durante a visita ao Kilamba, chamou a atenção para que os responsáveis locais passem a ouvir mais a população. Deixou mesmo claro que alguns poderiam perder os seus lugares se assim não agissem. Que o digam os responsáveis da Polícia. Mas, longe do sossego das novas cidades e das suas ruas asfaltadas, é na periferia e com os problemas causados pelas chuvas dos últimos dias que o governador comemorou ontem, 21 de Abril, os 100 dias à frente do Governo Provincial de Luanda.
Fornecido por:Angonoticias 2016 ( Stop.co.mz )