José Eduardo dos Santos esteve no poder 38 anos, ou seja, foi um dos presidentes que ficou mais tempo no poder no mundo. Foi, por isso, “um dos maiores actores da vida política angolana do pós-independência”, explica Didier Péclard, Professor de Ciência Política e de Estudos Africanos na Universidade de Genebra, na Suíça.
“Ele foi um dos maiores actores da vida política angolana do pós-independência, tendo sido Presidente da República de Angola a partir de 1979 depois da morte do primeiro Presidente Agostinho Neto até ter ser afastado do poder em 2017. Ficou no poder 38 anos, é um dos presidentes que ficou mais tempo no poder em geral no mundo, não só em África”, recorda Didier Péclard.
O especialista na história de Angola sublinha que “o que é claro é essa trajectória da concentração do poder que começa a partir de finais dos anos 70 e realmente aumenta muito a partir do fim da guerra nos anos 2000”.
“Aquilo que se vê é que houve uma grande concentração do poder entre as mãos do Presidente e da sua « entourage » directa ao longo dos anos. Quando ele começou, o poder era mesmo dentro do partido, do bureau político e ficou dentro do bureau político durante muitos anos mas com o decorrer da guerra e sobretudo a partir de 2002 quando o MPLA ganha a guerra contra a UNITA, aí o poder pessoal do Presidente José Eduardo dos Santos aumentou muito. Houve uma concentração dos poderes à volta do Presidente mas também a partir dos anos 2010, mais ou menos, uma concentração dos poderes dentro da própria família biológica do Presidente, com a sua filha à cabeça da Sonangol, o seu filho à cabeça do Fundo Soberano, o que afinal conduziu ao facto de ele ter sido afastado do poder pelo próprio MPLA em 2017 quando foi substituído enquanto candidato à presidência pelo João Lourenço.”
Didier Péclard acrescenta, por isso, que “ele vai ser lembrado de maneira diferente em função das opiniões políticas, do estatuto das pessoas dentro da sociedade, da política angolana”. Ou seja, “não vai haver só uma memória do José Eduardo dos Santos, isso é claro”.
O actual Presidente João Lourenço já decretou cinco dias de luto nacional e justificou a homenagem por se tratar do que chamou de "figura de um Estadista de grande dimensão histórica, que regeu durante muitos anos com clarividência e humanismo os destinos da Nação Angolana, em momentos muito difíceis".
Para os activistas, não é bem assim. Laura Macedo fala em “déspota” que “proporcionou o delapidar do país”.
“O que mais sobressai desta passagem de José Eduardo dos Santos pelo poder foi o aumento da pobreza e da miséria nas populações, o empoderamento de figuras ligadas a ele e ao governo que comandou de forma ilícita. Quando alguém me fala em José Eduardo, o que vejo é um déspota que proporcionou o delapidar do país de uma forma inédita”, afirma a activista.
Laura Macedo diz que José Eduardo dos Santos pertencia a uma “máfia” que militou sempre para “abafar as vozes que lhe eram contraditórias”, sublinhando que é nesse ambiente de desigualdade que nasce o activismo crítico em Angola.
“José Eduardo dos Santos faz parte de uma mafia, é assim que eu considero o MPLA, que desde os primórdios sempre zelou para que não houvessem opiniões, para que não houvesse liberdade de expressão. O MLPLA sempre se pautou por abafar a qualquer custo, mesmo retirando a vida a pessoas, todas as vozes que lhe eram contraditórias. Quando se fala em activismo, o activismo crítico, nasce precisamente com as más condições, com a roubalheira."
A activista considera, ainda, que o país não pode olhar para José Eduardo dos Santos de forma leviana e lembra as zonas de sombra do 27 de Maio de 1977. “Ele participou, desde os primórdios da independência, em acções menos boas. Diz-se que ele foi um dos envolvidos no 27 de Maio, não se percebe bem a posição dele, mas ele pactuou com o MPLA e chegou a Presidente da República”, conclui a activista.
Opinião diametralmente oposta é a do diplomata angolano Sebastião Isata para quem o ex-Presidente foi um "construtor" da democracia em Angola, ainda que admita que esta figura que liderou o país durante quase 40 anos "não foi unânime".
"Ele teve efectivamente a responsabilidade de implementar e de criar a democracia constitucional, a democracia pluralista em Angola. Há sempre certas manifestações e seguimentos da população descontentes e isto é normal, numa sociedade não pode haver unanimidade", considera Sebastião Isata.
Usando apenas uma palavra para qualificar o antigo líder angolano, Sebastião Isata que privou com José Eduardo dos Santos, escolhe "construtor" por ter sido quem fundou a democracia angolana.
"Foram 38 anos, quase 40 anos, a palavra que posso escolher para o qualificar é que ele foi, de facto, o construtor de uma Angola democrática", declarou Sebastião Isata.
Já para o historiador Bruno Kambundo, "a história de José Eduardo dos Santos foi marcada com mais anos no poder que outra coisa" e ele "não queria abandonar o poder" porque "queria proteger os seus".
O governo angolano criou uma comissão do Estado para organizar a cerimónia fúnebre de José Eduardo dos Santos, com 11 ministros e a governadora de Luanda. A realização da cerimónia fúnebre não é consensual, já que as filhas mais velhas do antigo Presidente não querem regressar a Angola por enfrentarem processos judiciais. Um outro filho, José Filomeno “Zenu” dos Santos, foi condenado a uma pena de prisão no âmbito de um processo de corrupção, aguardando em liberdade o recurso que interpôs, mas disse recentemente que o seu passaporte estava a ser retido pela autoridades angolanas.
Fonte:da Redação e da rfi
Reeditado para:Noticias do Stop 2022
Outras fontes • AFP, AP, TASS, EBS
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