Esboços da Bíblia - Livro de Cânticos

Mais
7 anos 11 meses atrás #252 por Malaquias
Cânticos ou Cantares de Salomão (Ct)


Escritor: Salomão.
Lugar da Escrita: Jerusalém.
Data: Cerca de 960 a.C.

“O mundo inteiro não era digno do dia em que este sublime Cântico foi dado a Israel.” Assim expressou o “rabino” judeu Akiba, que viveu no primeiro século da Era Comum, a sua admiração pelo Cântico de Salomão. O título do livro é uma forma abreviada das primeiras palavras: “O cântico superlativo, que é de Salomão.” No texto hebraico, é literalmente o “Cântico dos cânticos”, denotando excelência superlativa, similar à expressão “os céus dos céus” para os mais altos céus. (Dt.10:14) Não se trata de uma coleção de cânticos, mas de um só cântico, “um cântico de extrema perfeição, um dos melhores que já existiram ou que foram escritos”.

O Rei Salomão, de Jerusalém, foi o escritor desse cântico, segundo indicado na introdução. Estava altamente qualificado para escrever este supremamente belo exemplo de poesia hebraica. (1Reis.4:32) É um poema idílico, de grande significado e muito expressivo na sua descrição de beleza. O leitor que puder visualizar o cenário oriental apreciará isto ainda mais. (Ct.4:11,13; 5:11; 7:4) A ocasião para a sua escrita era ímpar. O grande Rei Salomão, glorioso em sabedoria, forte em poder e deslumbrante no brilho da sua riqueza material, que suscitou até mesmo a admiração da rainha de Sabá, não conseguiu impressionar uma jovem simples do interior por quem se enamorou. Por causa da constância de seu amor por um jovem pastor, o rei não teve êxito. Portanto, o livro bem poderia ser chamado de “O Cântico do Amor Frustrado de Salomão”. Deus o inspirou a compor este cântico para o proveito dos leitores da Bíblia das eras futuras. Ele o escreveu em Jerusalém. Talvez isso se tenha dado por volta de 960 a.C., alguns anos depois de terminar a construção do templo. Na época em que escreveu esse cântico, Salomão tinha “sessenta rainhas e oitenta concubinas”, ao passo que no fim do seu reinado possuía “setecentas esposas, princesas, e trezentas concubinas”. — Ct.6:8; 1Reis.11:3.
Nos tempos antigos, a canonicidade do Cântico de Salomão era absolutamente incontestada. Muito antes de Cristo, era considerado inspirado e parte integrante do cânon hebraico. Foi incorporado na Septuaginta grega. Josefo o incluiu no seu catálogo dos livros sagrados. Por conseguinte, tem as mesmas comumente citadas evidências de autenticidade que quaisquer outros livros das Escrituras Hebraicas.

A canonicidade desse livro é, porém, contestada por alguns sob o pretexto de que não há nele menção de Deus. O fato de não mencionar a Deus não desqualifica o livro, assim como a mera presença da palavra “Deus” não o tornaria canônico. No no entanto, no capítulo 8, versículo 6, diz que o amor é “a chama do Senhor”. Esse livro inquestionavelmente faz parte dos escritos aos quais Jesus Cristo se referiu com aprovação, ao dizer: “Pesquisais as Escrituras, porque pensais que por meio delas tereis vida eterna.” (João.5:39) Além do mais, sua poderosa descrição da sublime qualidade de amor mútuo, tal como existe em sentido espiritual entre Cristo e sua “noiva”, distingue o Cântico de Salomão e lhe dá um lugar sem igual no cânon da Bíblia. — Ap.19:7,8; 21:9.

CONTEÚDO DO CÂNTICO DE SALOMÃO

A matéria do livro é apresentada na forma de uma série de conversas. Há constante mudança de personagens. As pessoas que desempenham o papel das partes faladas são Salomão, rei de Jerusalém, um pastor, sua amada sulamita, os irmãos dela, as damas da corte (“filhas de Jerusalém”) e as mulheres de Jerusalém (“filhas de Sião”). (Ct.1:5-7; 3:5,11) São identificadas por aquilo que elas próprias dizem ou pelas palavras dirigidas a elas. O drama se desenrola perto de Suném, ou Sulém, onde Salomão está acampado com sua comitiva da corte. Expressa um tema comovente — o amor de uma jovem camponesa, da aldeia de Suném, pelo seu companheiro pastor.

A sulamita no acampamento de Salomão (1:1-14). A jovem aparece nas tendas reais, onde o rei a introduziu, mas ela só anseia ver seu amado pastor. Com saudades do seu amado, ela fala como se ele estivesse presente. As damas da corte (“filhas de Jerusalém”) que assistem o rei olham curiosamente para a sulamita por causa da sua tez morena. Ela explica que está queimada do sol por cuidar dos vinhedos de seus irmãos. Daí, fala ao seu amado como se ela estivesse livre, e pergunta onde o pode encontrar. As damas da corte mandam-na ir pastorear o seu rebanho perto das tendas dos pastores.
Salomão entra em cena. Não está disposto a deixá-la partir. Ele exalta a beleza dela e promete adorná-la com “argolinhas de ouro” e “botõezinhos de prata”. Mas a sulamita resiste aos avanços dele e deixa-lhe saber que o único amor que ela sente é pelo seu amado. 1:11.

O amado pastor aparece (1:15–2:2). O amado da sulamita consegue penetrar no acampamento de Salomão e a encoraja. Ele lhe expressa todo o seu amor. A sulamita anseia que seu querido fique perto dela e quer ter o simples prazer de viver unida com ele nos campos e nos bosques.
A sulamita é uma moça modesta. “Sou apenas um açafrão da planície costeira”, diz ela. Seu amado pastor a julga incomparável: “Como lírio entre as plantas espinhosas, assim é minha companheira entre as filhas.” 2:1, 2.

A donzela sente saudades de seu pastor (2:3–3:5). Separada de novo de seu amado, a sulamita mostra o quanto o preza acima de todos, e diz às filhas de Jerusalém que elas estão sob juramento de não tentarem despertar nela um amor não desejado por outro. A sulamita relembra o tempo em que seu pastor respondeu à sua chamada e a convidou a passear nas colinas na primavera. Ela o revê subir os montes, pulando de alegria. A sulamita o ouve gritar para ela: “Levanta-te, vem, ó companheira minha, minha bela, e vem.” Mas, seus irmãos, que duvidavam da sua constância, zangaram-se e ordenaram-lhe trabalhar na guarda dos vinhedos. Ela declara: “Meu querido é meu e eu sou dele”, e implora-lhe que se apresse a vir para junto dela. 2:13, 16.
A sulamita descreve sua detenção no acampamento de Salomão. De noite, na cama, sente saudades de seu pastor. Novamente lembra as filhas de Jerusalém que estão sob juramento de não despertarem nela um amor não desejado.

A sulamita em Jerusalém (3:6–5:1). Salomão retorna com grande pompa a Jerusalém, e o povo admira o seu cortejo. Nessa hora cruciante, o amado pastor não abandona a sulamita. Ele segue a sua companheira, que está usando um véu, e entra em contato com ela. Ele encoraja a sua amada com palavras de ternura. Ela lhe diz que quer libertar-se e abandonar a cidade; ele então cai num êxtase de amor, e diz: “Tu és inteiramente bela, ó companheira minha.” (4:7) Um simples olhar dele para ela faz o coração dele bater mais rápido. Suas expressões de afeto são melhores do que o vinho, sua fragrância é como a fragrância do Líbano e a sua pele é como um paraíso de romãs. A moça convida seu amado a vir ao ‘jardim dele’, e ele aceita. As amistosas mulheres de Jerusalém os encorajam, dizendo: “Comei, companheiros! Bebei e embriagai-vos com expressões de afeto!”. 4:16; 5:1.

O sonho da donzela (5:2–6:3). A sulamita conta às mulheres da corte um sonho em que ouve alguém bater. Seu amado está lá fora e pede-lhe que o deixe entrar. Mas ela está deitada. Quando finalmente se levanta para abrir a porta, ele desapareceu no meio da noite. Ela sai para procurá-lo, mas não o encontra. Os vigias a maltratam. Ela diz às damas da corte que estão sob juramento de dizer a seu amado, se o encontrarem, que ela desfalece de amor. Elas lhe perguntam o que faz com que ele seja tão notável. Ela responde com uma descrição encantadora dele, dizendo que ele é “deslumbrante e corado, o mais conspícuo de dez mil”. (5:10) As damas da corte lhe perguntam onde ele foi. Ela responde que foi pastorear entre os jardins.

Os últimos avanços de Salomão (6:4–8:4). O Rei Salomão se aproxima da sulamita. Novamente lhe diz quão bela ela é, mais bela do que “sessenta rainhas e oitenta concubinas”, mas ela o rejeita. (6:8) Só está ali porque uma incumbência de serviço a levou perto do acampamento dele. ‘O que vê em mim?’ pergunta ela. Salomão tira partido de sua pergunta ingênua e lhe diz quão bela ela é, dos pés à cabeça, mas a donzela repele os avanços dele. Declara corajosamente sua devoção a seu pastor, clamando para que ele venha. Pela terceira vez diz às filhas de Jerusalém que estão sob juramento de não despertarem nela um amor não espontâneo. Salomão deixa-a partir. Fracassou em conquistar o amor da sulamita.

O retorno da sulamita (8:5-14). Os irmãos dela vêem-na aproximar-se, mas ela não está sozinha. Está “encostando-se no seu querido”. Ela relembra ter conhecido seu amado debaixo de uma macieira, e declara o seu inquebrantável amor por ele. São mencionados alguns comentários anteriores de seus irmãos sobre a preocupação destes a respeito dela quando “pequena irmã”, mas ela diz que revelou ser mulher madura e estável. (8:8) Que seus irmãos consintam agora no seu casamento. O Rei Salomão pode ficar com a sua riqueza! Ela se contenta com o seu único vinhedo, pois ama alguém que lhe é exclusivamente querido. No seu caso, seu amor é tão forte quanto a morte e suas labaredas como “a chama de Deus”. A insistência na devoção exclusiva, “tão inexorável como o Seol”, triunfou e conduziu à elevação sublime de união com seu amado pastor. 8:5, 6.

PROVEITO PARA OS NOSSOS DIAS

Que lições, ensinadas neste cântico de amor, pode o homem de Deus achar proveitosas hoje? A fidelidade, a lealdade e a integridade aos princípios piedosos nos são claramente mostradas. O cântico ensina a beleza da virtude e da inocência numa pessoa que ama verdadeiramente. Ensina que o verdadeiro amor permanece inflexível, inextinguível, não pode ser comprado. Os jovens cristãos, homens e mulheres, bem como maridos e esposas, poderão tirar proveito deste excelente exemplo de integridade diante de tentações e seduções.

Este cântico inspirado é também de muito proveito para a Igreja cristã como um todo. Os cristãos do primeiro século o reconheciam como parte das Escrituras inspiradas, tendo um deles escrito: “Todas as coisas escritas outrora foram escritas para a nossa instrução, para que, por intermédio da nossa perseverança e por intermédio do consolo das Escrituras, tivéssemos esperança.” (Rom.15:4) É bem possível que esse mesmo escritor inspirado, Paulo, tivesse em mente o amor exclusivo da sulamita pelo seu pastor, quando escreveu à Igreja cristã: “Pois, estou ciumento de vós com ciúme piedoso, porque eu, pessoalmente, vos prometi em casamento a um só marido, a fim de vos apresentar como virgem casta ao Cristo.” Paulo escreveu também sobre o amor de Cristo pela sua Igreja como o de um marido para com a esposa. (2Cr.11:2; Efé.5:23-27) Jesus Cristo não só é o Pastor Excelente para eles, mas é também seu Rei, e prometeu a seus seguidores a alegria indescritível do “casamento” com ele nos céus. Ap.19:9; João.10:11.

Esses seguidores de Cristo Jesus podem certamente tirar muito proveito do exemplo da sulamita. Eles também precisam ser leais no seu amor, não se deixando enlaçar pelo brilho materialista do mundo e mantendo equilíbrio na sua integridade até obterem a recompensa. Sua mente está fixa nas coisas de cima e ‘buscam primeiro o Reino’. Eles acolhem com alegria os sinais de afeto de seu Pastor, Jesus Cristo. Transbordam de alegria ao saberem que este amado, está perto deles, dando-lhes encorajamento para vencerem o mundo. Tendo tal amor inextinguível, tão forte pelo seu Pastor-Rei, vencerão, sim, e se unirão a Ele no glorioso Reino dos céus. Mat.6:33; João.16:33.

Por favor Login para participar da conversa.