de celebridades de Nova York, Michael Wolff.
O livro traz entrevistas com dezenas de pessoas que acompanharam de perto o cenário eleitoral e o primeiro ano da presidência de Donald Trump e causou alvoroço no governo com a quantidade de informações inéditas, e desabonadoras, sobre Trump e família. Em resumo, a imagem de Trump apresentada é de alguém volátil, despreparado e até “louco” — em uma das passagens divulgadas previamente no jornal The Guardian, Wolff afirma que o presidente é viciado em sanduíches do McDonalds porque sabe que tem menor chance de ser envenenado pela comida.
A polêmica foi tamanha que Wolff precisou adiantar o lançamento da obra para esta sexta-feira, com medo de que Trump entrasse na justiça para tentar barrar a chegada do livro às lojas. Na manhã de ontem, um advogado do presidente havia divulgado uma carta de 11 páginas em que pedia que Wolff não publicasse o livro, sob risco de “acusações de calúnia e difamação” que poderiam resultar em “substanciais danos monetários e punitivos”.
“O Sr. Trump, por meio desta, demanda que vocês [Wolff e Henry Holt, editor do livro] cessem imediatamente e desistam de qualquer publicação, divulgação ou disseminação do livro, artigo ou qualquer excerto ou sumário, para qualquer pessoa ou entidade, e que vocês façam uma completa retratação e pedido de desculpas sobre todas as afirmações feitas sobre ele”, dizia o documento.
A Casa Branca tentou desmerecer a reputação de Wolff para abafar o livro. “Eu não autorizei nenhum acesso à Casa Branca para o autor desse livro metido. Eu nunca falei com ele. Cheio de mentiras, falsas representações e fontes que não existem. Chequem o passado dele”, disse Trump em sua conta no Twitter. A secretária de Imprensa da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, disse que o livro é cheio de “erros, atrás de erros, atrás de erros”.
Em uma entrevista concedida nesta sexta-feira, Wolff retrucou as alegações do presidente e afirmou que conversou com Trump para o livro. “Se ele percebeu que era uma entrevista ou não, eu não sei. Mas eu falei com ele e não foi off the record. Minha janela para falar com Donald Trump era bastante significativa”, disse o autor para o Today Show, da rede de TV NBC.
Descrito como uma “piranha de primeira” do meio jornalístico de Manhattan pelo jornal New York Times, Michael Wolff passou anos usando suas colunas cáusticas na New York Magazine para criticar celebridades locais. Em 2008 ele biografou o bilionário da indústria midiática Rupert Murdoch, com uma prosa descrita como “arsênica” que desagradou ao biografado.
Há também relatos de que Wolff se deixa levar pelos fatos e que, às vezes, “exagera nas aspas”. Thomas Barrack Jr., um investidor do mercado imobiliário e amigo próximo de Trump, já veio a público negar que tenha dito que o presidente “não é só louco, ele é estúpido”, como Wolff escreveu.
A caçada de Trump ao autor e ao livro, claro, só jogou mais holofotes sobre uma obra que, em qualquer outra situação poderia ter passado despercebida. É o chamado Efeito Streisand, que tem esse nome por causa da cantora Barbra Streisand, que em 2003 tentou a todo custo retirar uma foto de sua mansão em Malibu da internet — o que só acabou por trazer mais atenção para a foto, que se espalhou ainda mais.
Por aqui, nós temos nossa própria versão do Efeito Streisand com o ex-presidente Lula, que em 2004 tentou expulsar Larry Rohter, correspondente do New York Times, do Brasil por conta de uma reportagem em que Rohter afirmava que Lula tinha problemas com álcool. A medida, vista como uma supressão do direito à liberdade expressão e de imprensa, foi interpretada como uma forma de autoritarismo dentro de um regime democrático e atraiu ainda mais atenção para o fato.
Fogo e Fúria já era o livro mais vendido da Amazon, a maior varejista digital de livros do mundo, mesmo antes de ter sido publicado. Em uma livraria de Washington, conhecida por funcionar até de madrugada, o jornalista Ben Terris, do Washington Post, viu cópias dos livros se esgotarem antes mesmo de a sexta-feira raiar. Mesmo com as temperaturas negativas que atingem a região nordeste dos Estados Unidos, as pessoas foram às ruas adquirir uma cópia. O jornal britânico Independent chegou a fazer uma leitura em tempo real do livro.
Os principais trechos
Uma das principais entrevistas do livro, e uma das que mais balançaram o governo, foi com o ex-conselheiro e assessor de campanha de Trump, Steve Bannon, fundador do portal de notícias conservadores Breitbart. Uma das mais incendiárias afirmações de Bannon a Wolff foi a de que Trump nunca quis de fato ter ganhado a eleição.
“Havia, no espaço de pouco mais de uma hora, na visão de Steve Bannon, um Trump confuso transformando-se num Trump incrédulo e então num Trump horrificado. Mas ainda viria a fase final: de repente, Donald Trump se tornou o homem que acreditava que ele merecia ser, e era total capaz de ser, o presidente dos Estados Unidos”, escreveu Wolff em um dos trechos do livro.
Segundo o autor, Trump esperava de fato perder a eleição e usaria isso a seu favor, como um mártir de Hillary Clinton: ele seria mundialmente famoso, sua filha Ivanka Trump seria uma celebridade, Steve Bannon seria o líder do Tea Party (ala conservadora do partido Republicano). Em resumo, todos sairiam ganhando. Perder era vencer.
O livro também aponta para uma relação frágil entre Trump e sua filha, Ivanka Trump. De acordo com Wolff, há relatos de Ivanka zombando do cabelo do pai, e de Trump ter dito que “Ivanka e Jared Kushner [marido da filha] nunca deviam ter vindo para Washington”. Bannon também teria dito que o filho do presidente, Donald Trump Jr., que se encontrou com uma advogada russa em meados do ano passado, era um “traidor” e que “sem dúvida ele havia levado os russos ao escritório de Trump.”
Há passagens que atentam para a falta de atenção e intelecto do presidente. Segundo um ex-assessor de campanha, Sam Nunberg, Trump sabia muito pouco sobre a constituição dos Estados Unidos e não tinha nenhum interesse em aprender, quando ele tentou explicá-la ao candidato. “Eu cheguei até a parte da Quarta Emenda, quando ele começou a revirar os olhos”, disse Nunberg ao livro.
Outros relatos apontam para as características infantis do presidente. Wolff afirma no livro que Trump decretou que nenhum funcionário da Casa Branca tocaria em suas coisas, especialmente sua escova de dentes. Ele também ordenou a instalação de duas televisões extras em seu quarto, onde usualmente passava as noites ligando para aliados enquanto comia chesseburguers.
Além de descrever o já conhecido fato de que Trump não lê nada, “nem mesmo folheia”. O livro também traz diversas declarações de outros funcionários da Casa Branca e do gabinete de Trump de que o presidente não passa de “um idiota”.
Para muitos jornalistas e analistas políticos Fogo e Fúria não traz nada de novo. Mas pinta um retrato surrealista do confuso governo que toma conta da nação mais poderosa do planeta. Só por isso, já vale a leitura. No Brasil, o livro pode ser adquirido na Amazon, tanto em formato digital quanto físico.
Fonte:da Redação e Por Reuters
Reditado para:Noticias do Stop 2018
Fotografias:Getty Images/Reuters/EFE/AFP/Estadão