O secretário de Estado americano, John Kerry, pediu à Rússia que detenha seus bombardeios, em uma franca conversa com seu colega russo, Serguei Lavrov, explicou em Londres.
Kerry lembrou a Lavrov que já existe uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que pede um cessar-fogo imediato na Síria, para permitir levar ajuda às cidades sitiadas.
"A Rússia tem a responsabilidade, como todas as partes, de respeitá-la", disse Kerry à imprensa.
"Esta manhã tive uma conversa com o ministro das Relações Exteriores Lavrov. Falamos, e concordamos que temos que ver como cumprir o cessar-fogo", acrescentou.
A Rússia apoia o presidente sírio, Bashar al-Assad, com bombardeios que têm como alvos "organizações terroristas" como o Estado Islâmico, segundo ela, mas foi acusada em diversas ocasiões de atacar forças da oposição.
Nesta quinta-feira, 21 civis, incluindo três crianças, morreram em um bombardeio russo contra bairros rebeldes da cidade de Aleppo, denunciou a ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), com sede na Grã-Bretanha.
Durante seis dias, o emissário da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, conversou em Genebra separadamente com uma delegação do governo e outra da oposição.
Mas na quarta-feira, o diplomata anunciou uma pausa, e disse que os contatos prosseguirão a partir de 25 de fevereiro.
A suspensão do diálogo revela "profundas divisões", disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que denunciou uma intensificação do conflito durante as negociações.
De fato, o ministro das Relações Exteriores francês, Laurent Fabius, acusou Damasco e Rússia de "minarem os esforços de paz" com uma ofensiva militar.
"É profundamente perturbador que os passos iniciais nas negociações tenham sido minados pela contínua falta de acesso da ajuda humanitária e pelo súbito aumento dos bombardeios aéreos e das atividades militares na Síria", lamentou Ban em seu discurso na conferência de Londres.
A Rússia respondeu que lamentava a pausa, mas que "ninguém esperava que tudo fosse simples e rápido", segundo o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.
"Ninguém esperava resultados imediatos na primeira rodada" de contatos.
"Esperamos que ocorram em breve esclarecimentos sobre a maneira como as negociações vão continuar", acrescentou o porta-voz.
O primeiro-ministro da Turquia, Ahmet Davutoglu, rival da Rússia e de Assad, denunciou, sem mencioná-los, os que "vão a Genebra e ao mesmo tempo cometem os piores atos criminosos" contra o povo sírio.
Enquanto Davutoglu acusou implicitamente a Rússia de cometer crimes de guerra na Síria, Moscou afirmou acreditar que a Turquia prepara uma intervenção militar no país vizinho.
"Os que ajudam o regime de Assad são culpados pelos mesmos crimes de guerra", disse Davutoglu, afirmando, em seguida, que a Rússia "bombardeia escolas e hospitais, e não as posições do (grupo extremista) Estado Islâmico", como assegura.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), com sede na Grã-Bretanha, 21 civis, vários deles crianças, morreram, nesta quinta-feira, devido a um bombardeio russo em bairros rebeldes da cidade síria de Aleppo.
A Rússia insistiu que tem motivos para acreditar que a Turquia prepara uma intervenção depois que lhe negou a permissão para um voo de reconhecimento.
"Temos motivos fundamentais para suspeitar que a Turquia prepara intensamente uma invasão militar em território soberano" sírio, indicou o Ministério da Defesa russo em um comunicado.
Grama e cachorros para sobreviver
A Alemanha, o Reino Unido e os Estados Unidos anunciaram em Londres contribuições multimilionárias para os refugiados sírios.
A Alemanha anunciou uma ajuda de 2,57 bilhões de dólares, o Reino Unido de 1,74 e os Estados Unidos de 890. Estas somas representam mais da metade dos 9 bilhões que se pretende arrecadar nesta conferência.
Com sua contribuição, a Alemanha quer evitar "uma situação na qual a comida aos refugiados seja reduzida", disse a chefe do governo, Angela Merkel.
"As pessoas precisarem comer grama e animais de rua para sobreviver é algo que deveria abalar a mente das pessoas civilizadas", disse Kerry.
A conferência anterior de doadores da Síria, em 2015, buscava obter 8,8 bilhões de dólares, mas apenas 3,3 bilhões foram acumulados.
Um total de 4,6 milhões de sírios fugiram a países vizinhos (Líbano, Jordânia, Turquia, Iraque e Egito), enquanto centenas de milhares chegaram à Europa colocando suas vidas em risco na travessia do Mediterrâneo.
Os representantes de Turquia e Jordânia na conferência de Londres descreveram a triste situação dos refugiados e também a pressão que sofrem para recebê-los.
O rei Abdullah da Jordânia disse que seu país "chegou ao limite".
"Uma em cada cinco pessoas que vive em nosso reino é um refugiado sírio. Para acolher os refugiados sírios, gasta-se mais de um quarto do orçamento nacional", explicou.
Fornecido por: Da AFP 2016 ( STOP )