a luz solar e, quando em decomposição, retira o oxigênio dissolvido do meio líquido, podendo levar à morte de animais aquáticos. Episódios de crescimento intenso já foram reportados diversas vezes no Brasil.
Marcelo Luiz Martins Pompêo, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), investigou o assunto e definiu estratégias para prevenir ou, no pior dos casos, remediar o problema.
Os resultados foram publicados no livro Monitoramento e manejo de macrófitas aquáticas em reservatórios tropicais brasileiros. A obra está disponível em PDF e pode ser baixada gratuitamente online. A pesquisa teve apoio da FAPESP e da Sabesp, por meio do programa FAPESP de Pesquisa em Políticas Públicas, e do CNPq.
“As plantas aquáticas ainda são vistas de forma desfavorável por muitas pessoas. E o noticiário não tem ajudado a esclarecer a população. De fato, o problema não são as macrófitas, mas a má gestão dos reservatórios”, disse Pompêo à Agência FAPESP.
“Se estão presentes na medida certa, as plantas aquáticas, flutuantes ou enraizadas, proporcionam maior diversidade de habitats, criando locais de refúgio para peixes e outros animais. Além disso, assimilam nutrientes que, de outra forma, ficariam presos nos sedimentos. E, pela excreção de compostos ou pela decomposição, liberam esses nutrientes no meio aquático, abastecendo os ecossistemas. O maior transtorno, decorrente da entrada de esgotos, surge quando os reservatórios recebem grandes aportes de nitrogênio e fósforo na água, levando à proliferação explosiva das macrófitas”, explicou.
De modo geral, essa grande entrada de nutrientes é quase sempre consequência da gestão inadequada das áreas da bacia hidrográfica.
“Quando não ocorre intervenção humana adversa, a população de macrófitas tende ao equilíbrio, porque é regulada pelos ciclos naturais, como chuvas, secas etc. Porém, se há desmatamento em larga escala e crescimento urbano descontrolado, com despejo de esgotos industriais e domésticos nas imediações dos reservatórios ou na bacia hidrográfica, as consequências negativas tornam-se muito mais intensas e perniciosas decorrentes das grandes quantidades de nitrogênio e fósforo que entram nos reservatórios”, disse Pompêo.
“Quando processos físicos ou químicos liberam esses nutrientes para a coluna d’água, torna-se difícil conter o crescimento vegetal, seja das plantas aquáticas ou do fitoplâncton, muitas vezes ocorrendo crescimentos explosivos. Estudos realizados em laboratório no Brasil mostraram que, em condições de superabundância de nutrientes, a biomassa de macrófita chega a crescer 15% ao dia”, disse.
Com essa taxa de crescimento, se o controle for negligenciado durante três semanas, o reservatório se transforma em um mar de plantas aquáticas, muito difícil de ser erradicado. A superabundância de nutrientes associa-se às condições climáticas de um país tropical, com insolação e temperaturas elevadas na maior parte do tempo, que fazem com que as plantas tenham quase sempre excelentes condições para crescer.
Quando as plantas morrem, os nutrientes absorvidos são devolvidos ao meio líquido, alimentando um círculo vicioso. Além disso, durante a decomposição, nas situações mais críticas, porções significativas da massa de água dos reservatórios podem chegar ao nível zero de oxigênio, levando à morte de muitos outros organismos.
Como estratégia preventiva, Pompêo propõe em seu livro a criação de centros responsáveis pelo monitoramento de conjuntos específicos de reservatórios na Região Metropolitana de São Paulo, como, por exemplo, o complexo Billings-Guarapiranga (considerando que estes dois reservatórios são muito interligados e que aquilo que acontece em um repercute no outro) e o sistema Cantareira com seus cinco reservatórios interligados por canais e túneis.
Segundo o pesquisador, esses centros precisariam ter certa autonomia. Mas não necessitariam ter laboratórios sofisticados. Laboratórios simples, instalados em cada centro, possibilitariam resolver as questões menores e mais imediatas do monitoramento.
Mas há necessidade de laboratórios mais sofisticados, com equipamentos mais caros e que necessitam de pessoal especializado para sua operação, que poderiam ter seu uso compartilhado por vários centros.
“É claro que esses centros não se destinariam apenas ao monitoramento de macrófitas. Seria muito investimento para pouco aproveitamento. Minha sugestão é que, além de macrófitas, monitorem também o zooplâncton, fitoplâncton, peixes etc., e tanto a água quanto os sedimentos. E que, principalmente, estudem e compreendam quais são as ocupações e usos dos espaços circundantes na bacia hidrográfica, pois muitas das soluções para a manutenção da qualidade de suas águas têm a solução no entorno, fora do reservatório, como a coleta e o tratamento dos esgotos, os principais responsáveis pela entrada de grandes quantidades de nutrientes”, disse.
O pesquisador lembrou que um reservatório como o de Guarapiranga vem sendo explorado há cerca de 100 anos. “Se, ao longo desse intervalo de tempo tão prolongado, medidas adequadas de monitoramento e gestão tivessem sido adotadas, o reservatório apresentaria hoje um perfil muito diferente, com outro padrão de qualidade sendo oferecido à população. Além disso, osa custos operacionais seriam muito menores”, disse.
Se o crescimento explosivo de macrófitas não foi prevenido, como remediar a situação? “Do meu ponto de vista, a melhor maneira é a retirada mecânica das plantas do reservatório. Porque, se forem lançados produtos químicos na água, ou se for utilizada uma máquina que triture as plantas e as deixe no local, elas morrerão, entrarão em decomposição, e esse processo irá retirar ainda mais oxigênio do meio líquido. A retirada manual das plantas possibilita preservar o oxigênio e eliminar os brotos que gerariam novas plantas e os nutrientes que alimentariam as plantas vivas”, disse Pompêo.
Mas o pesquisador alerta que essa retirada não é uma operação simples. No Brasil, em alguns locais, já houve episódios em que foram retirados do reservatório mais de 200 caminhões de plantas, de 5 metros cúbicos cada um.
“Por isso, a ideia de um programa de monitoramento e gestão é muito conveniente. Se há monitoramento sistemático, aos primeiros sinais de crescimento anormal, já é possível tomar medidas preventivas. A prevenção é muito mais barata do que a correção a posteriori”, disse.
Este conteúdo foi originalmente publicado na Agência FAPESP.
Fonte:Da Redação Por Agência FAPESP
Reditado para:Noticias do Stop 2017
Fotografias:Getty Images/Reuters/EFE/AFP