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Terça, dez.
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Cientistas encontram recife oculto na pluma do rio Amazonas

Pesquisadores com amostras colhidas do recife descoberto na desembocadura do Amazonas:

Ciência
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Enorme porque até o momento é sabido que se estende por, no mínimo, 900 km da costa, entre o Maranhão e a Guiana Francesa.

E riquíssimo por estar repleto de espécies endêmicas, muitas das quais desconhecidas, como esponjas gigantes com até 2 metros de diâmetro e que pesam mais de 100 kg.

“Encontrar esse recife foi uma grande surpresa”, disse Michel Michaelovitch de Mahiques, professor no Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo (IO-USP) e um dos pesquisadores envolvidos na descrição do novo hábitat marinho.

“A característica mais importante é que ele está em um local improvável. Nunca se procurou estruturas recifais em desembocadura de rio. É uma quebra de paradigma.”

O anúncio da descoberta está no artigo An extensive reef system at the Amazon River mouth, publicado na Science Advances, da American Association for the Advancement of Science.

A pesquisa, liderada por Carlos Eduardo de Rezende, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, e por Fabiano Thompson, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, conta com cientistas de diversas universidades brasileiras.

O sonar de varredura utilizado na pesquisa foi adquirido com apoio da FAPESP durante o projeto “Incremento da capacidade de pesquisa em oceanografia no Estado de São Paulo”, que está inserido no Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais.

A pesquisa contou com apoio do CNPq, Capes, Faperj e de outras instituições.

Thompson também destaca o inusitado da descoberta. “Os livros-texto ensinam que não há formação recifal na desembocadura de rios como o Ganges, o Orinoco ou o Amazonas, por causa de suas condições. Falta luz, por exemplo”, disse.

A falta de luminosidade se explica pela espessa pluma de sedimentos e de matéria orgânica que esses grandes rios despejam incessantemente nos oceanos, tornando as águas quase impenetráveis à luz solar.

Sem luz solar não pode haver fotossíntese, que é a base da cadeia alimentar nos recifes de coral das águas tropicais.

Sem fotossíntese, há uma redução drástica na quantidade de oxigênio em suspensão, uma vez que o processo é responsável pela liberação do oxigênio no meio ambiente, seja ele aéreo ou aquático.

Daí a ideia de que não poderiam existir recifes em desembocaduras de rios tropicais com grande aporte de sedimentos, os chamados rios barrentos.

Os pesquisadores contam que tal ideia permanece válida no caso dos recifes coralinos, aqueles cujas estruturas são formadas pelo acúmulo do esqueleto de corais mortos e que dependem da fotossíntese.

Ocorre que recifes coralinos não são os únicos tipos de recifes. Há também os recifes formados por esponjas e algas calcárias.

E é exatamente esse o caso do grande recife que floresce entre 60 e 120 metros de profundidade, a cerca de 200 quilômetros da foz do rio Amazonas.

A maior parte dos 300 mil m3 de água barrenta que o Amazonas despeja a cada segundo no Atlântico é carregada pelas correntes marítimas na direção norte e isso contribui para o novo recife não ser homogêneo, destacam os cientistas.

Corais e esponjas gigantes

O recife agora descoberto é dividido em três setores. O setor norte, que vai do Amapá até a Guiana Francesa e além (os pesquisadores acreditam que ele prossegue nas águas do Suriname), é o que se formou abaixo de uma pluma permanente cuja espessura chega aos 25 metros de profundidade.

Abaixo desta pluma, a luminosidade é de apenas 2%. Em tais condições praticamente não há fotossíntese. Apesar disso, há coral, esponjas gigantes, peixes e lagostas.

O setor norte é o mais interessante do ponto de vista científico, justamente por ser o mais improvável.

Na falta de fotossíntese, os pesquisadores já sabem que a cadeia alimentar é baseada na quimiossíntese, a capacidade que algumas bactérias muito simples têm de usar compostos nitrogenados e amônia para produzir energia.

Essas bactérias são a base de alimentação de microrganismos, esponjas e moluscos.

O setor central do recife, que fica diante da ilha do Marajó, caracteriza-se por uma pluma menos espessa que aquela do setor norte. Sua densidade é variável e decresce na direção sul. A diminuição da pluma reduz o bloqueio aos raios solares.

Daí o setor central exibir uma transição entre os recifes de esponjas e algas calcárias que prevalecem ao norte e os recifes de formação coralina de águas tropicais claras que prevalecem no setor sul, entre o Pará e o Maranhão.

É nessa região que se encontra o Parcel de Manoel Luiz, o maior recife de corais do Atlântico Sul, cuja existência é conhecida há décadas, por ser o local do maior cemitério de navios do Brasil.

“Aparentemente, o recife que acaba de ser descoberto começou a se formar entre 14 mil e 12 mil anos atrás. Em termos geológicos, é recentíssimo”, disse Mahiques.

E a explicação é simples. No auge da última era do gelo, há 21 mil anos, o nível do mar estava 130 metros abaixo do atual, com toda a plataforma continental brasileira exposta.

Com o derretimento das grandes calotas glaciais que cobriam boa parte do hemisfério Norte, o nível dos mares subiu, alagando toda a plataforma continental e criando ambiente propício para a colonização pelos recifes.

O novo recife se estende por 9 mil km2. “Durante as duas expedições que fizemos em 2012 (com ao Navio Oceanográfico Atlantis) e 2014 (com o Navio Oceanográfico Cruzeiro do Sul), ficamos ao todos 15 dias no mar e mapeamos apenas 10% dessa área. Precisaríamos de mais 100 dias, ou três meses de mar, para mapear o que resta do recife,” disse Thompson.

“A gente está longe de entender aquele sistema. Há inúmeros aspectos do recife que precisam ser estudado.”

A equipe pretende voltar em breve ao recife, usando o navio oceanográfico Alpha Crucis, o Cruzeiro do Sul, da Marinha brasileira, ou outra embarcação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

 

 

 

Fonte: Associated Press.

 

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