Alterações climáticas: "Dá-se mais importância ao conforto individual do que à própria sociedade"

Terra
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Avião, comboio ou carro à vela? Uma resposta em jeito de piada de Christophe Galtier, treinador do paris Saint-Germain, sobre as viagens frequentes do clube em jacto privado e as gargalhadas da estrela do PSG Kylian Mbappé provocaram a indignação geral.

“Arrogância”, “desprezo”, “desconecção”, são algumas das críticas apontadas ao famoso clube de futebol parisiense. Uma tempestade mediática e política que já levou o treinador do PSG a dar a mão à palmatória e a lamentar a “piada de mau gosto”.

No plano político as reacções multiplicaram-se, com os governantes a pedirem ao PSG para levar o tema a sério.

Sobre a responsabilidade de figuras públicas e as novas tendências alimentares, a RFI ouviu Richard Tavares, responsável pelo financiamento e gestão de programas e projectos de investigação, na área das alterações climáticas e ambiente, na Agência Europeia do Clima, Infra-estruturas e Ambiente, em Bruxelas.

Não se deveria esperar mais responsabilidade por parte de pessoas que ocupam estes lugares?

“Sem dúvida que a postura durante a entrevista foi bastante triste, de todo não profissional, nem consciente da sociedade e da realidade. Deveria, sobretudo, num momento destes ou não dizer nada ou simplesmente dar uma desculpa mais razoável. Sobretudo que, hoje em dia, a situação é evidente em termos de eventos extremos, alterações climáticas, apenas os cépticos não aceitam. Pessoas conhecidas e em postos que são claramente exemplos, sobretudo, para os mais novos, deveriam dar um exemplo de responsabilidade e de civismo.”

Mesmo depois de Christophe Galtier ter vindo a público dar a mão à palmatória e de ter lamentado aquilo que ele chamou de “piada de mau gosto”, o mal acaba por estar feito?

"Exactamente. Há muitos anos que em português se diz que as desculpas se evitam. Neste caso, deveria ponderar o que diz durante as conferências de imprensa para evitar este tipo de reacções, que são reacções extremamente correctas da sociedade, mas acima de tudo, para evitar dar a ideia de que, no meio de futebol e numa esfera de certa forma elevada, não existe uma consciência que deveria ser exemplar, quer ambiental, quer de acções mais moderadas neste tipo de deslocações."

Alargando os horizontes, ainda esta quarta-feira, o presidente do senado francês, Gérard Larcher, chamou a atenção para a “crise energética” que se vive e que será agudizada no Inverno. O governo pede esforços às empresas para a redução do consumo de energia.

Olhando para o parque empresarial francês é possível essa sobriedade energética?

“Eu diria que será um esforço extremamente elevado segundo o parque industrial e, sobretudo, empresarial. Não diria tanto das grandes empresas, mas mais das pequenas e médias empresas que já são entidades que têm um esforço alargado actualmente a nível económico e energético.

Mais esforços serão necessários, mas, pessoalmente, não sei se serão suficientes para diminuir o consumo energético como é esperado ou desejado. E, de facto, haverá impactos quer na produção, quer mesmo a nível da própria rentabilidade financeira e estabilidade das empresas.”

Esta sobriedade energética não deveria ser pensada mais alto? Não passa também por mobilizar toda a população?

“Nos mais simples actos, utilizar um smartphone, um computador ou um simples aparelho em casa requer electricidade, energia. O consumo tem aumentado significativamente nas últimas décadas.

De facto, uma moderação do consumo tem que ser em larga escala, mas infelizmente no seio nacional e mesmo a nível europeu, a componente empresarial e industrial são, digamos, o maior consumidor energético e, de facto, os governos tendem sempre a identificar quem consome mais.

Para a população, não diria medidas de redução ou limitativas da parte do governo, mas sobretudo no aspecto do civismo e da educação, em particular, nos mais novos e mais jovens para um consumo mais moderado ou mais consciente actualmente e no futuro.”

Inquéritos levados a cabo pela OCDE em Junho, em 20 países ricos, mostram que 60 a 90% das pessoas inquiridas compreendem que as alterações climáticas são provocadas pela actividade humana. Todavia, poucos se dizem dispostos a sacrificar o seu conforto, a reduzir o consumo de carne ou a limitar a utilização do carro, do aquecimento ou do ar condicionado em casa.

O que é que é preciso fazer para mudar comportamentos?

“Sobretudo, diria que eventos extremos são a maior alerta para as situações, para a realidade. Temos visto actualmente que os alertas são lançados não apenas europeu, mas a nível mundial. Os hábitos têm que ser mudados, o consumo tem que ser mais racional e, de facto, a sociedade, diria, está consciente a nível de boa vontade, mas em acções do dia-a-dia ainda não está pronta a realmente ter o shift e mudar radicalmente.

Cada vez mais vemos quer na publicidade, quer nos média que consumo é um sinal de bem-estar. Infelizmente, os grupos que promovem a consciencialização ainda são poucos, limitados e são vistos como grupos extremos em medidas que poriam em causa o conforto generalizado.

Diminuir em um ou dois graus a climatização não provoca grande diferença em casa. Mesmo nas gerações anteriores, estava-se com frio em casa, vestia-se mais uma peça de roupa. Hoje dá-se mais importância ao conforto individual do que à própria sociedade em termos gerais.”

Acabamos de ter um verão escaldante na Europa, um dos mais quentes da história da Europa ocidental, com fogos florestais de grandes dimensões, rios e ribeiros secos ou com baixos níveis de água e temperaturas extremamente elevadas. É impossível ignorar o impacto do aquecimento global do planeta. Porém, a resposta europeia às alterações climáticas parece que surge a conta-gotas e que vem a reboque os problemas?

“Sobretudo porque, hoje em dia, os governos também são bastante direccionados aos aspectos económicos. Ter uma alteração radical, quer nas medidas quer nas acções, implicaria grandes impactos não só apenas, por exemplo, no crescimento económico de um país, mas em toda a cadeia da actividade quer empresarial, quer industrial e, de facto, um governo não quer pôr em causa ou impactar sectores extremamente importantes da sua economia e do próprio país.”

No entanto, ao não impactar esses sectores, está a impactar todo o futuro de um país e de uma forma mais lata de um planeta?

“Mas também, infelizmente, a própria sociedade ainda não tem uma consciência clara e de acção imediata para provocar ou implicar este tipo de alterações.

Vemos que o uso de carros privados do parque automóvel ainda é extremamente elevado, porque as pessoas preferem o conforto que ter uma consciência.

É um aspecto ligado a ambos, quer do governo que, de certa forma, por questões de popularidade, de votos ou económicas, cede muito facilmente a pressões.

Vemos, por exemplo, a Exxon, uma grande empresa petrolífera, que já estava consciente das alterações climáticas desde a década de 1970. Saiu recentemente um relatório que demonstrou este conhecimento e consciência, mas nada foi feito porque, infelizmente, na sociedade generalizada dá-se muito mais importância ao aspecto económico e financeiro do que ao aspecto ambiental e do futuro do nosso planeta.”

Como é que comer menos carne pode salvar o planeta?

“Tudo tem a ver com peso e medida. A sociedade ocidental, digamos assim, desde algumas décadas, sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial, teve um aumento exponencial do consumo, não apenas de carne, mas de peixe e de outros recursos e alimentos.

Sobretudo a carne, é um tipo de alimento que tem implicações ambientais muito elevadas na cadeia de produção, desde a produção dos cereais até a criação dos animais e mesmo depois de todo o processo.

De facto, hoje em dia, a sociedade, infelizmente, é uma sociedade de sobre-consumo e aí um consumo mais moderado de carne e também de peixe seria um meio que, a médio e longo prazo, contribuiria para a redução de emissões.

Claro está que esta redução também tem impactos no sector agro-alimentar, que depois teria que ser compensado de outra maneira por esta diminuição.”

Um dos produtos que está na moda é o abacate. Biológico ou de agricultura intensiva, este superalimento é rei nas mesas veganas e vegetarianas. Todavia a produção do abacate é catastrófica a nível de consumo de água, por exemplo. Deixar de comer carne e passar a comer abacate também não é a solução?

“É preciso ter em atenção que a produção específica de abacate por hectare, comparando com outras produções de frutos, não é das que consome mais. Mas, nestes últimos anos, sobretudo a nível europeu, por exemplo, em Portugal, tem tido um aumento exponencial da área coberta de produção de abacate.

De facto, na produção por hectare o consumo não é tão elevado, mas se formos a ver depois, no total, aí sim, um aumento exponencial provoca um aumento ainda maior do consumo de água que não estava previsto e nem acredito que tenha sido planeado ou estimado antes da própria plantação.

Infelizmente, determinadas tendências alimentares contribuíram para a importação de determinadas espécies e alimentos originários de outros continentes, o abacate, mas não só, a quinoa e outros super-alimentos que, de facto, estão a alterar completamente a paisagem agrícola, sobretudo no sul da Europa.

Uma produção intensiva tem logo impactos ambientais. Estou certo que nos próximos anos, se a tendência de secas mais extremas se instalar, como dizemos no seio da comunidade climática, em termos de eventos extremos, de facto, será necessário repensar toda a estrutura agrícola em regiões como no Algarve.”

Esta importação destes super-alimentos para cultivo no sul da Europa, também acontece porque esta região sofre com o aquecimento global do planeta e neste momento tem temperaturas mais elevadas para estes cultivos?

“Exactamente, mas seria também muito importante a nível das autoridades e a nível do planeamento agrícola e do território, não a curto prazo, mas a médio e longo prazo, ter estratégias de adaptação às novas condições de temperaturas extremas e de condições hídricas mais limitadas em períodos de seca, que poderão ser cada vez maiores.

E aí sim, fazer um estudo de ciclo de vida de todo o processo para verificar se, de facto, vale a pena um investimento massivo neste tipo de produtos ou, sobretudo, uma vez mais, investir numa educação da sociedade para um consumo mais moderado de diferentes alimentos, não apenas da carne, como referimos antes, mas também desde super-alimentos que, uma vez mais, o aumento do consumo é resultado de tendências ou de movimentos vegan ou de outros, e que deveriam ser sobretudo moderados e não levados ao extremo, como vemos em algumas situações.”

 

 


Fonte:da Redação e da rfi
Reeditado para:Noticias do Stop 2022
Outras fontes • AFP, AP, TASS, EBS
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