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Sudão do Sul: "A vinda do Papa Francisco vem encorajar o desejo de paz"

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Depois de se deslocar à República Democrática do Congo onde endereçou à população e aos seus responsáveis mensagens de paz, o Papa Francisco enceta nesta sexta-feira a sua primeira visita ao Sudão do Sul, jovem país que mal alcançou a sua total autonomia há 12 anos, mergulhou num conflito fratricida entre os apoiantes do Presidente Salva Kiir e os do seu adversário político, o vice-presidente Riek Machar.


Com o estalar da guerra civil em 2013, o país adiou o sonho de desenvolvimento e prosperidade que o tinha guiado para a independência. 380 mil pessoas morreram neste conflito descrito como sendo particularmente cruel, milhões de pessoas tiveram de fugir das suas zonas e, hoje em dia, o Sudão do Sul continua a ser um dos países que mais precisa de apoio humanitário, apesar de ter recursos naturais, nomeadamente importantes reservas de petróleo.

Embora esteja agora a cumprir uma transição política desde 2020 com vista à realização de eleições no ano que vem, o Sudão do Sul continua a viver num clima de insegurança e desconfiança. É neste contexto que chega o sumo pontífice para esta visita que suscita muita expectativa como refere Elisabete Almendra, irmã comboniana que está há dois anos no país, na diocese de Wau, no norte do país e se encontra neste momento em Juba para celebrar a chegada do papa.

RFI: O Sudão do Sul encetou uma transição política em 2020 com vista à realização de eleições que devem decorrer no ano que vem. Em que contexto chega o Papa Francisco?

Irmã Elisabete Almendra: Em termos reais, não temos paz. Aqui na cidade de Juba, há paz, circulamos livremente sem grandes problemas. Claro que temos a segurança e os polícias muito armados. Para dar um exemplo, viajei de outra diocese para Juba, juntamente com o Presidente da câmara local. Com ele vieram dez soldados armados dos pés à cabeça. Cada político, cada pessoa tem uma arma na sua casa para se defender. Há aqui uma insegurança muito forte. E depois, os conflitos que existem mais a norte, há milhares de pessoas deslocadas porque todos os dias há combates, há mortes, as pessoas não podem estar nas suas casas. É muito fácil que, de um momento para o outro, possa tudo explodir. Também pode não explodir, podem respeitar os acordos de paz. Mas há uma grande tensão e há muito medo. Temos para o próximo ano, em teoria, as eleições. Vai ser um processo muito forte e muito duro e se os nossos líderes forem fortes e estiverem convencidos de que podem dialogar e que se pode conseguir desenvolver o país sem ir para a guerra outra vez, será óptimo. É a nossa esperança e a vinda do Papa Francisco é isto mesmo, encorajar este desejo de paz.

RFI: Até que ponto é que a mensagem do Papa Francisco pode ser ouvida num país que tem estado em guerra praticamente desde a sua independência?

Irmã Elisabete Almendra: O Papa Francisco não nos vem trazer paz. A paz somos nós que a temos que construir. A igreja protestante e a católica têm influência junto dos políticos. Desde que o Presidente e o Vice-Presidente foram a Roma num retiro (em Abril de 2019) em que o Papa fez aquele gesto muito simbólico de beijar os pés ao Presidente e aos outros ministros, este gesto ainda está marcado na mente dos políticos e das pessoas. Vejo isto como algo muito importante. Houve uma certa boa vontade de se tentar alguma paz devido também àquele encontro em Roma. Claro que as coisas depois, na prática, aqui são muito diferentes.

RFI: Em termos de Direitos Humanos, qual é a situação neste momento?

Irmã Elisabete Almendra: Tentam respeitar. O meu trabalho é muito directo com jovens, com meninas, porque as meninas pouco conseguem ir à escola ou conseguem ir à universidade. Entre 100 alunos na universidade, 90 são rapazes e 10 são raparigas, com muita sorte. Com as tradições neste país, as jovens casam e ficam grávidas muito cedo. Então, é muito difícil que as meninas tenham os mesmos direitos que os rapazes. Também em relação à pena de morte: esta prática existe no Sudão do Sul mas não tem sido muito aplicada. O governo tem tentado não aplicá-la, mas ela existe. Existe muita pressão. Os jornalistas que falam mal do governo publicamente, desaparecem. Não se pode falar muito contra o governo. Relativamente aos Direitos Humanos, temos muito que trabalhar. Estou muito convencida que se temos uma boa base de educação, de saúde, de bens essenciais, o resto virá. O que funciona aqui são praticamente as escolas cristãs. As escolas públicas, praticamente não funcionam, o governo não paga os professores ou paga muito pouco. Os professores, claro, não receberam o salário, também não vêm à escola para ensinar. Se quisermos um professor com alguma qualidade, tem de vir do país vizinho, do Gana ou do Quénia. Ainda estamos na fase de formação de bons professores, de bons profissionais de saúde. Ainda vamos demorar algum tempo a conseguir isto para que depois, realmente, os Direitos Humanos sejam respeitados.

RFI: O Sudão do Sul é um dos países que mais necessidades tem a nível de apoio humanitário. Julga que o país está um pouco esquecido no meio de todas as crises que se está a viver neste momento?

Irmã Elisabete Almendra: Há 3 anos que a guerra terminou e as pessoas estão a deixar os campos de deslocados e estão a voltar às suas aldeias em alguns sítios. Por exemplo, na diocese de Wau (no noroeste do país), ainda há um campo de deslocados, mas de resto as pessoas estão a voltar devagarinho às suas cabanas, ao seu território, ainda com muita insegurança e não cultivam porque há medo. Depois, claro que as organizações humanitárias são muito boas, ajudam muito nos casos urgentes, mas também estão a ir embora para outros países devido às crises e a situação fica complicada para os mais pobres. Por exemplo, em Wau, na diocese onde estou, para ir ao hospital público, havia uma organização que apoiava muito o hospital público. Funcionava muito bem. Esta organização foi-se embora e o hospital praticamente fechou. Um hospital público que acolhia milhares de pessoas. Agora, as pessoas têm que procurar outros hospitais, outra maneira de se ajudarem, porque realmente não há dinheiro. Se uma pessoa quer fazer uma operação, tem de trazer dinheiro para o gasóleo para o gerador funcionar e tem de pagar todos os medicamentos. As contas são enormes e as pessoas não têm a possibilidade de fazer isso. As pessoas aqui comem uma vez por dia e se não temos essas organizações, se não temos a igreja a ajudar, claro que é muito duro para todos.

RFI: O Sudão do Sul está em plena transição. Mencionou que para o ano, há eleições. Até que ponto a comunidade internacional e países que têm influência dentro do Sudão do Sul podem contribuir para uma estabilização do país?

Irmã Elisabete Almendra: Sabemos que há também os interesses económicos de outros países. O Sudão do Sul não é um país pobre, tem muitos recursos naturais como o petróleo. Portanto, não é um país que não interesse a outros países. Os interesses económicos são muito fortes e isso faz também com que não haja unidade dos políticos. Interessa a países estrangeiros que o país esteja dividido para que possam entrar economicamente e ter os recursos a preços muito mais baixos. Os interesses económicos passam aqui e ali acima dos interesses políticos.

 

 

 

 

 

Fonte:da Redação e da RFI
Reeditado para:Noticias do Stop 2023
Outras fontes • AFP, AP, TASS, EBS
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